Watch this performance of Ladino music recorded at the Kadoorie Mekor Haim synagogue in Porto with Tobius Rueger on saxophone. Experience the compelling voice of Israeli singer Yahli Toren. Live interview in English(legendas Portuguesas) with the performers. Haunting, moving, timeless.
PortoConcerto de Música Ladina Tradição e ModernidadePorto, Sinagoga do Porto, Dia 11 de Outubro de 2001, às 21:30h (do sitio/site attambur.com)
O Goethe-Institut, a Comunidade Israelita do Porto e "As Boas Raparigas" apresentam o concerto de música ladina "Tradição e Modernidade" - no âmbito de "Porto Judaico" e da encenação de "Uriel Acosta", espectáculo que se realiza no dia 11 de Outubro às 21:30 horas na sinagoga do Porto (Rua Guerra Junqueiro, 340).
O Ladino, a língua dos judeus hispânicos do sudoeste mediterrânico, é um legado da cultura ibero-judaica do tempo da Reconquista. Praticamente desaparecido no território onde originalmente se difundiu (Império Otomano, que hoje congrega a Turquia, a Grécia e o Israel), este idioma conseguiu sobreviver graças à riquíssima diversidade da cultura de canções sob a forma de variadíssimos documentos elaborados no decurso do século XX.
Inalteradas, suspensas na sua beleza secular, as melodias hispânicas encontraram agora com a modernidade do saxofone. Longe de qualquer pretensão de representação "autêntica" de alguma forma legitimada, emoldurado pelos meios musicais do jazz e da música clássica contemporânea, o tesouro das canções dos judeus do levante desabrocha assim com novas cores.
Este espectáculo é servido por dois músicos Yahli Toren e Tobias Rüger. Yahli Toren, nasceu em 1971 em Haifa, e fez o curso de Canto em Jerusalém e Berlim - tendo realizado diversos recitais em Israel, Alemanha e Nova Iorque com repertório clássico e ladino. Actualmente lecciona no Conservatório de Música de Haifa e vive em Tel Aviv.
Tobias Rüger nasceu em Berlim em 1965, tendo aprendido Saxofone e Ciências Musicais na sua terra natal. Realizou inúmeras composições para peças radiofónicas, bem como diversos projectos na área da Nova Música. Actualmente reside em Frankfurt/Main.
Este espectáculo é uma Co-produção "As Boas Raparigas", Auditório Nacional Carlos Alberto e Teatro Nacional de S. João para o PoNTI.
2006/10/27
Santiago Alquimista, 18 de Outubro de 2006
PADRE PREGADOR
Desgraçados homens! Mas por sua culpa desgraçados, que sempre se perderam por negativos. (Muito alto e poderoso Rei e Senhores nossos) Desgraçados homens! Mas por sua culpa desgraçados, que sempre se perderam por negativos. Parece fatalidade, mas é obstinação e perfídia. Antigamente, negaram a Deus os Israelitas, cansados de esperar por ele; agora, negam a Deus, esperando por outro sem cansar.
Veio, finalmente, ao mundo o Messias tão desejado, satisfez o Filho de Deus às esperanças dos homens, fazendo-se homem; e, quando parecia que os Judeus, cansados de tanto esperar, reconheceriam com grande alvoroço o seu Deus e o seu Messias, tornaram ao costume antigo de negar. Inventou a sua perfídia outro modo de negar a Deus. Negaram e disseram que não era este o Messias, mas outro por quem ainda esperam.
Confesso que à vista de tão indesculpável perfídia, quando me mandaram subir hoje a este lugar para desenganar este povo, pretendi fugir ao preceito, desculpando-me com as palavras de Jeremias em semelhante missão: «Ah, Senhor, que não sei falar neste caso e até me faltam as palavras». Não me foi admitida a escusa, como nem ao Profeta, porque o Sermão era de missão, em que tenho por intuito o pregar.
Aqui venho, pois, por obediência, a desenganar este povo, como antigamente Jeremias na sua missão. Mas que hei-de eu dizer a um povo tão obstinadamente negativo? Propor-lhe-ei a sem razão das suas mesmas negações, dando-lhe nos olhos com a sua maliciosa cegueira, para que, vendo a sua grande culpa, se resolvam a chorá-la. Ouvi, pois, infelizes relíquias do Judaísmo; ouvi, irmãos caríssimos, a quem deveras desejo a salvação; ouvi ponderar e convencer a repetida perfídia de vossas negações, não para vo-las lançar em rosto com desprezo, mas sim, para vo-las fazer confessar com arrependimento, que este é o fim com que o Senhor, pelo nosso Profeta, exagera tanto esta grande prevaricação de o haverdes negado.
Para vencer um gentio, deve fazer-se o tiro à cabeça: a razão que lhe pregámos ao entendimento é a pedra que se lhe prega na testa... Mas, para vencer um Judeu infiel, que sendo filho amado, quis ser traidor e inimigo, não à cabeça principalmente, mas ao peito se deve fazer o tiro, não com uma só, mas com muitas lanças se lhe deve tocar e penetrar o coração... para ver se deste modo se rompe o denso véu da sua obstinação e a densa nuvem da sua dureza.
O fogo do inferno em que irão cair se se não emendarem... Oh que poderosas três lanças, para que temendo ser trespassados delas, emendem as suas três negações, com que vos tem ofendido, negando vossa Divindade, negando vossa Vinda e negando vossa Pessoa!
Este tanto temor, e só este tanto temor, quisera eu, irmãos caríssimos, que vos movesse os corações a vos desdizer dos vossos erros e abraçar de todo o coração as verdades católicas. Nem outra cousa intenta este Santo Tribunal.
INQUISIDOR-MOR (para António)
António José da Silva, levantai-vos! (António levanta-se) Sois acusado de judaizar, juntamente com vossa mãe e outros familiares. Confessais vossas culpas?
ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Que delito fiz eu para que sinta o peso desta aspérrima cadeia nos horrores de um cárcere penoso? (para o Inquisidor-Mor) Não sei que confessar. Não conheço as culpas deque este tribunal me acusa…
INQUISIDOR-MOR
Tragam-me a testemunha de acusação! (entra Leonor Gomes, a escrava denunciante)
Contai a este tribunal vossas denunciações de António.
LEONOR GOMES
O que se passou foi o que segue. Estavam todos juntos, António José, sua mãe, sua tia, seu irmão e sua cunhada, num sábado, a comemorar o Yom Kipur, o “Dia Grande” dos pertinazes judeus. Eu vi-os com estes olhos que a terra há-de comer!...
INQUISIDOR-MOR
Mas, tendes a certeza de que António José da Silva judaizava em casa com a família?
LEONOR GOMES
(Hesitante) Certeza, certeza… não!... (convictamente) Mas, que estaria ele a fazer, reunido em família, justamente no dia mais importante para os cães judeus?
INQUISIDOR-MOR
Não estais certa?!... (bruscamente) Levai-a para as masmorras dos Estaus! (levam-na)
(para António) Em nome de Cristo Nosso Senhor, confessai toda a verdade, para merecerdes a misericórdia deste Santo Tribunal.
ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Como hei-de confessar as culpas que não tenho?...
INQUISIDOR-MOR
(Irado) Metei-o a tormento!
(o carrasco arrasta António para junto do polé, o instrumento de tortura)
INQUISIDOR-MOR
Pelo lugar em que estais e instrumentos que nele vedes, podeis entender qual é a diligência que convosco está mandada fazer, pelo que e para o poderdes escusar, vos tornamos a admoestar, com muita caridade da parte de Cristo Nosso Senhor queirais confessar vossas culpas, para com isso alcançardes a misericórdia que nesta mesa se dá aos bons e verdadeiros confitentes.
ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Nada mais tenho a confessar, senão meus pecados a Deus no Dia do Juízo Final.
INQUISIDOR-MOR
(Para o público) Se o réu, no tratamento, morrer ou quebrar algum membro ou perder algum sentido, a culpa será sua, pois voluntariamente se expõe a este perigo, que pode evitar confessando suas culpas, e não será dos ministros do Santo Ofício que, fazendo justiça segundo os merecimentos de sua causa, o julgam a tormento.
(António é içado, ficando suspenso pelos braços)
INQUISIDOR-MOR
Em nome de Cristo Nosso Senhor, rogamos que confesseis vossas culpas, para assim alcançardes a misericórdia deste Santo Tribunal.
ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
(Gemendo descontroladamente) Que quereis que confesse?... Eu confesso tudo o quiserdes!... Mas, por favor, parai com o tormento!...
INQUISIDOR-MOR
Para o carrasco) Parai o tormento!
ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
(Olhando para cima) Oh Deus, se sois justo, como castigas tão tiranamente este mísero inocente?!
INQUISIDOR-MOR
(Proclamando a sentença) O réu, António José da Silva, comediógrafo desta Corte, acusado de convicto, negativo e relapso, vai condenado à pena de relaxado em carne, pelo que será subido a um mastro alto, aonde morrerá morte natural de garrote, e depois seu corpo será queimado e feito por fogo em pó e suas cinzas lançadas ao mar, para que dele não haja memória.
(António é queimado na fogueira)
PADRE PREGADOR
E no fogo com que ameaça os teimosos obstinados, lhes lembra o maior, e sem comparação maior e mais voraz incêndio do inferno a que vos conduz a sua teima. Não faz agora mais o Santo Tribunal da Fé que lembrar-vos outra vara com a sua vara... Outra vigia com a sua vigia... E outro fogo com o seu fogo... Para ver se o temor destas lanças com que a Justiça Divina vos ameaça, vos penetra agora os corações de forte, que, por uma vez, com verdadeiro e não fingido arrependimento se rendam e confessem em repetidas confissões que o Messias é Deus, já tem vindo e que é o nosso amabilíssimo Jesus, que morreu naquela Cruz por nos salvar.
E vós, a quem a vossa desgraça reduziu à extrema miséria em que vos vejo relaxada à justiça secular, vos lembro, que com tempo abrais os olhos ao desengano. Em breves horas vos vereis em outro Tribunal do Juízo Divino muito mais circunspecto e severo do em que ao presente estais.
2006/10/20
Born in Rio in 1705, died in Lisbon in 1739. From a family of new Christians who fled to Brazil, he returned to Portugal with his family. He was imprisoned by the Inquisition twice, first with his mother in 1726 when he was tortured so badly he could not write his name. His mother spent 3 years in jail. The second time, he was imprisoned in 1737 with his wife, who was his cousin, Leonor Maria de Carvalho whose parents had also been burned by the Inqusition. he was garroted and burned while his plays enjoyed great success. He was a graduate in law from Coimbra University.
Lisbon, Portugal
m lopes azevedo
The launch of the 3rd volume of the, “most complete work on the history of Portuguese Jews in one and a half centuries, since Meyer Kayseling’, according to the renowned historian Anita Novinsky, took place on the anniversary of the execution by the Inquisition of the great playwright, Antonio Jose Da Silva.
The launch took place on Thursday October 18th, exactly 267 years since 1739, when the ‘Portuguese Moliere’ was garrotted, burned and his ashes thrown into the Tejo River. The event took place at the Santiago Alquimista theatre in the Alfama district of Lisboa, spitting distance from the Se or Cathedral. Guests were greeted at the entrance by a hooded Dominican friar holding a sign containing the coat of arms of the Inquisition (head and shoulder picture of Domenic holding a sword in one hand and an olive branch in the other.
The sign attached to the stiff full size monk statute said, “Today there is auto de fe”. On the stage were two women and three men dressed in black. The women came to the fore of the stage, put on black hoods and slowly and methodically read off the names of victims or would be victims of the Inquisition: Antonio Homem, Chancellor of the University of Coimbra, burned alive at Lisbon in 1624, Samuel Usque, author of the Consolation for the Tribulations of Israel, 1553, Ferrara, Uriel Acosta (Gabriel da Costa), committed suicide, Amsterdam 1640, Baruch Spinoza (Bento Espinoza), Manuel Fernandes Villareal, philosopher, burned alive at Lisbon, etc.
Scenes of the torture and confession of Antonio Jose da Silva were dramatized with the pronouncement of his sentence. This was followed by the dramatization of excerpts from the play, ‘O Judeu”, based on the life of Antonio Jose Da Silva, by Bernardo Santareno, which play is celebrating its 40th anniversary (the 1st edition was published in 1969). Portions of the book were burnt on stage in a clay urn with an open flame. This was followed by the booming voice of actor Jorge Sequerra (himself, a Marrano) from the balcony, his voice brimming with indignation, preaching the auto de fe sermon.
The launch of the two previous volumes took place on symbolical charged dates, the start and end of the Inquisition (1536-1821), and on the anniversary of the Lisbon Massacre in April of 1506 when up to 4,000 New Christians (remember, there were no more Jews in Portugal after 1497!). Contemporary accounts describe women, men and children and men butchered and burnt alive by a raging mob led by Dominican friars carrying large wooden crosses. King Manuel ordered the two leading friars hung in public with about another 60 ringleaders.
Author Jorge Martins has produced a milestone work, thoroughly researched, with extensive bibliographies and chronology. Presently, it is available in Portuguese only. To view the books and pictures of the actors visit Portugaleosjudeus.blogspot.com
mlopesazevedo
King John the Ist (Father of Henry the Navigator) created the Olival Judiaria in 1386. It was the new Judiaria, there probably
having been two previous Judiarias within the city
walls and two outside the city wall, ( Miragaia,
which still has 'Stairs of the Jews, Patio of the Jews and
Street of the Jews, and Monchique in which Captain
Barros Basto claimed to have found the remains of the
Synagogue. Around 1826, a stone from the
Synagogue was found which is today in the Carmo archaeological
Museum of Lisbon. I believe it dates from the 14th
Century.
Now back to Olival. It is significant for a number
of reasons. It was here, on Rua de Sao Miguel that
Gabriel da Costa (Uriel Acosta) was born,
grandson of one of the thirty wealthy families that
settled in the Judiaria in 1492 upon their expulsion
from Castile. Gaon Aboab (the grand rabbi of Castile), who died shortly thereafter negotiated the deal with King John the 2nd (each
family paid 10,000 ducats (?) when the usual charge
for fleeing Jews entering Portugal was eight,
half or less if the person was skilled in the arms
industry-i.e. Blacksmiths, tinsmiths etc). King John
built thirty houses for the newcomers who had agreed to
pave the street.
Da Costa committed suicide in Amsterdam in 1640 following his expulsion from the Esnoga for denying the immortality of the soul. Spinoza (Bento de Espinoza) was eight years old). Da Costa is
often referred to as the worlds first secular Jew. All
copies of the book he published were burned, except
for one copy found by H.P. Solomon in 1989 in the
Royal Danish Library, the subject of a book by the
same author reproducing Da Costa's manuscript( written
in Portuguese) with an English translation and
an extensive introduction) .
Another reason for the importance of this Judiaria is
the discovery by a priest last year, at Number 9, Rua
de Sao Miguel, a hidden stone niche for placing the
Torah scrolls (ekhal) behind a wall during the renovation of
the building for seniors facility. The ekhal has been dated to the 16th
century.
Behind the three storey house and going down
towards the old port is the "Escadas da Sinagoga", ie
the stairs of the synagogue (essentially a narrow lane
consisting of a stone staircase), still marked to this
day. It was a quick route to a waiting ship.
The discovery has been reported worldwide
including the New York Times and Israel. The
seniors centre is set to open at the end of the year.
According to the local priest, Father Jardim, the ekhal will be
protected with either a plastic cover or curtain. For
now, a guest book is maintained for all visitors to
sign. He is willing to move the seniors centre to
other premises if the society he created is suitably
compensated.
Nearby, on Rua da Vitoria is the former monastery of Sao Bento, now occupied by the Porto orchestra. Some local historians believe
this is where the original synagogue was. There are
two churches in the Olival. There are virtually no markings of
this great historical area, which incidentally, does
not form part of the nearby Unesco designated world
heritage site. The area is starting to be
re-developed.
In my opinion, it is necessary to act now to
achieve the following:
1. The return of no. 9 Rua de Sao Miguel to the
Jewish-Marrano community,
2. Designate the entire area of Olival as protected
world heritage site. And
3. Erect appropriate signage.
A LADINA constituiu-se informalmente em 24 Kislev 5765 (7 de Dezembro de 2004), Chanuká (Festa das Luzes).
O seu objectivo foi tornar-se o elo de dinamização e aglutinação de todos os que pretendam “resgatar” a memória e o legado dos que, ao longo dos séculos, não foram livres de exercer o direito inalienável de culto e liberdade de expressão. Deste modo, “in memoriam” dos que no Porto, encerrados em judiarias ou remetidos ao silêncio das suas consciências, foram reprimidos, sujeitos à vergonha e opressão de um “mal banalizado”.
Pretendemos dar voz à nossa herança, divulgando-a através das mais diversas expressões. Durante muito tempo, na Europa, ser português era equivalente a ser judeu (os chamados homens da nação). Assumir e dar a conhecer a cultura sefardita, dentro do espírito de tolerância e diálogo que a caracterizam, é, pois, o fim da LADINA. Libertá-la do anátema que a aprisionou na nossa memória colectiva será, pensamos, um acto de justiça de inestimável valor.
Actividades realizadas em 2005:
8, 9 e 10 de Abril de 2005 – Participaçãona organização do Primeiro Congresso dos Marranos em Portugal. sob o tema “Os Desafios da Fé Judaica no Mundo Pós-Moderno, organizado pela Comunidade Israelita do Porto e a Shavei Israel.
A LADINA foi ainda responsável pela realização de dois DVD’s, da autoria de Jorge Neves, respectivamente: “Actividades Judaicas no Norte de Portugal” e “Apresentação do Azeite Kosher Ribeiro Sanches” em Penamacor.
Participação em 18 de Abril no acto inaugural do MUSEU JUDAICO DE BELMONTE.
25 de Setembro de 2005 – Início das TERTÚLIAS DA LADINA, em colaboração com o Clube Literário do Porto, Fundação Luís de Araújo, com uma conferência e exibição de um filme dedicados ao Capitão Artur Carlos de Barros Basto, intitulada “Barros Basto, o apóstolo dos Marranos, e a obra do resgate”. Nesta sessão intervieram a Senhora Professora Doutora Elvira da Cunha Azevedo Mea, o jornalista do Público António Melo, a Dra Isabel de Barros Basto, o Rabino Elisha Salas e o Dr Alexandre Teixeira Mendes, membro da nossa associação.
30 de Outubro de 2005 – Tertúlia no Clube Literário do Porto sobre o Porto Moderno, realizada pelo Senhor Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva, Digníssimo Vice-Reitor da Universidade do Porto.
23 de Novembro de 2005 – Tertúlia dedicada à temática dos cristãos-novos na Época Moderna, realizada pela Senhora Professora Doutora Elvira da Cunha Azevedo Mea. A decorrer, de igual modo, no Clube Literário do Porto.
27 de Novembro de 2005 – Sessão de poesia e apresentação da obra do Senhor Professor Doutor Vítor Oliveira Jorge, no Clube Literário.
29 de Janeiro de 2006 – Tertúlia sobre “A CONTRIBUIÇÃO DOS JUDEUS PORTUGUESES PARA A ÉTICA CAPITALISTA” pelo Prof. Dr. António Vasconcelos Nogueira
04 de Fevereiro de 2006 – Tertúlia com a escritora Agustina Bessa Luís , sobre URIEL DA COSTA com lançamento da reedição do seu livro “UM BICHO DA TERRA”
30 de Abril de 2006 – Tertúlia com o Prof. Moisés Espirito Santo sobre “O BRASONÁRIO PORTUGUÊS E A CULTURA HEBRAICA”
28 de Maio de 2006 – Tertúlia com o Prof. Jorge Martins com lançamento do livro e conferência sobre “PORTUGAL E OS JUDEUS”
25 de Junho de 2006 – Tertúlia com António Carlos Carvalho sobre “O DESTERRO DOS MARRANOS”
09 de Julho de 2006 – Palestra Concerto sobre “O LADINO E A MÚSICA SEFARDITA” por Judith Cohen
14 de Julho de 2006 – Em colaboração com a Zéfiro Editora e o Clube Literário do Porto organizamos a apresentação do livro de Teresa Sabugosa “VIVA A REPÚBLICA! VIVA O REI!” Cartas inéditas e Agostinho da Silva, com a presença de D. Duarte de Bragança (sócio nº 1 da LADINA)
PROGRAMA DE ACÇÃO
1. Reabilitação do Capitão Barros Basto
Através de várias iniciativas, em coordenação com a família Barros Basto, iremos encetar uma petição pública para repôr a justiça em relação ao capitão Barros Basto, fundador da Sinagoga Mekor Haim do Porto, que até à presente data não viu o seu nome reabilitado.
2. Criação de um MUSEU JUDAICO DO PORTO
Tentar obter um espaço público (com o apoio da Cãmara Municipal, Governo Civil e outras entidades) na zona histórica da cidade, onde se situaram as diferentes judiarias que existiram no Porto, onde se reunirá o espólio já existente e o que se vier a obter, criando um MUSEU JUDAICO, que pretende perpetuar a presença e a herança sefardita na cidade, evocando nomes de relevo como Abrãao Zacuto, Uriel da Costa, Barros Basto e criando também um percurso turístico na cidade evocativo da presença judaica no Porto até aos dias de hoje.
3. Organização do OPORTO LADINO FESTIVAL
É nossa intenção organizar a primeira edição de um Festival dedicado à Cultura Sefardita, por ocasião de Rosh Ha-Shanah (Ano Novo Judaico), onde através da música, cinema, exposições e conferências, se divulgará as diferentes criações artísticas de raiz sefardita, em particular as expressas em LADINO, a língua dos judeus originários da Península Ibérica (SEFARAD)
Sinagoga descoberta no Porto
Foi descoberta, no Porto, uma sinagoga de finais do século XVI. Por circunstâncias várias, tem enorme importância histórica, mas está numa casa onde a paróquia de Nossa Senhora da Vitória ultima a construção de um lar de idosos, com aval do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).
A historiadora Elvira Mea, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), anda há dois anos a lançar alertas para a existência, no nº 9 da Rua de S. Miguel, de um "Ehal" (nicho onde são guardados os rolos da Torah, a Lei atribuída a Moisés), que tem o especial valor de ter sido feito depois da expulsão/conversão forçada dos judeus em 1496/97, por D. Manuel. Trata-se de uma sinagoga clandestina, que constituía "uma afronta total à situação de Contra-Reforma". Para mais, além da tipologia da casa (uma entrada por trás, discreta, na Rua da Vitória), característica do culto clandestino, a documentação, designadamente da Inquisição, dá conta da existência, nas imediações, de casas de jogo, que os cristãos-novos usavam como elementos distractivos.
Elvira Mea, que diz ter contactado o IPPAR, o Governo, a Câmara do Porto e o Governo Civil (a única entidade que mostrou interesse), nota, ainda, que o achado faz luz sobre a obra "Nomologia..." (Amesterdão, 1629), de Imanuel Aboab, em que o autor diz ter visto a sinagoga, na sua meninice, algo que a ausência de vestígios materiais tornava duvidoso. A importância do "Ehal" é ainda maior, atendendo à falta de vestígios materiais da presença judaica no Porto, designadamente na zona do Olival, hoje Vitória, onde esteve a última judiaria da cidade. A localização da sinagoga na rua que agora é da Vitória, e não na de S. Miguel, é corroborada por escritos de historiadores como Geraldo Coelho Dias.
O arqueólogo Mário Jorge Barroca, também docente da FLUP, não hesita em afirmar que o "Ehal" é de finais do século XVI ou do início do século XVII, sendo um de quatro exemplares existentes em Portugal, juntamente com os de Castelo de Vide, de Castelo Mendo (que ele próprio identificou) e da Guarda. Apesar de danificado, por obras mais antigas, o "Ehal" constitui oportunidade única para aprofundar e divulgar o conhecimento sobre a cidade.Pedro Olavo Simões
Paróquia e IPPAR receptivos
Agostinho Jardim, pároco de Nossa Senhora da Vitória, comprou a casa em questão há cerca de quatro anos, tendo descoberto o dito "nicho" ao ver que "havia uma parede falsa a tapar qualquer coisa". O lar, feito ali por ter sido aquela a casa devoluta que apresentava melhores condições, é uma necessidade premente, e a obra está perfeitamente legal, mas o padre Jardim está aberto à procura de uma solução. Já Miguel Rodrigues, da Direcção Regional do Porto do IPPAR, admite a importância do achado e a necessidade de fazer tudo pela presevação, mas nota que, por o edifício não ser do Estado, há que ter em conta "todos os interesses em presença". Diz ter sabido do caso há 15 dias, desconhecendo os apelos feitos anteriormente.
12/01/2006
Remains of a Torah ark discovered
during renovations in Portugal
By Amiram Barkat
A group of citizens from the city of Porto in Portugal who view themselves as descendents of Crypto-Jews want to turn a building in which the remains of an ancient synagogue were found into a museum dedicated to the history of the city’s Jews.
In their view, the building, in which a recess of a synagogue ark was discovered by chance, once served as the synagogue of Rabbi Isaac Aboab. However, so far the group’s request has not been acceded to, and it appears unlikely that it will.
Rabbi Aboab, also known as the “last gaon [sage] of Castile,” was the head of the Guadalajara yeshiva and one of the last gaonim of Spain. In March 1492, on the eve of the expulsion of the Jews from Spain, Aboab and a group of Jewish dignitaries managed to obtain political asylum in Portugal.
The rabbi settled in the Judiaria, or Jewish, quarter of Porto along with a few hundred Jewish families. Five years later, the Portuguese authorities forced all the Jews in the country to either convert to Christianity or be expelled.
Many of those forced to convert continued to observe the Jewish commandments in secret. Over the years, the Jews abandoned the Judiaria, and many of its buildings were handed over to the Church or various charity organizations. The synagogue building was handed over to a state charity.
Two years ago, the organization gave the building to a priest named Agostinho Jardim Moreira to establish an old people’s home in it. During renovations on the building, a recess where a synagogue ark once stood, in which the Torah scrolls were kept, was found behind a secret wall.
The niche was identified by historian Elvira Mea, a lecturer at the University of Porto who specializes in Jewish history. She happened to be passing by while guiding a tourist from Israel.
The location of the building precisely matches a description provided by 16th century writer Immanuel Aboab (a great-grandson of Rabbi Aboab), who wrote that the synagogue was located “in the third house along the street counting down from the church.”
Mea, who specializes in the period of the Inquisition, maintains that the synagogue continued to be active even during the period of the Crypto-Jews, who worshiped in it secretly. However, an Israeli journalist of Portuguese extraction, Inacio Steinhardt, who knows Mea personally, disagrees with her.
“It is difficult to believe the Crypto-Jews prayed in a synagogue, because it would have been far too dangerous,” he says. Steinhardt is convinced the Crypto-Jews removed the ark from the synagogue along with its other sacred artifacts and worshiped in their homes.
A group of descendants of Crypto-Jews who heard about the discovery has asked that the building be preserved and turned into a museum dedicated to the history of the city’s Jews. However, Father Moreira has demanded an alternative building as well as compensation for the money that has already been put into the renovations.
Israeli ambassador to Portugal Aaron Ram has appealed to the city of Porto and the local bishop regarding the matter. In addition, the Center for Jewish Art at Hebrew University has asked UNESCO to intervene.
Steinhardt says he is pessimistic regarding the chances of turning the building into a museum because only the Portuguese government is authorized to make any decisions in the matter.
Alexandre Teixeira Mendes
Sirvo-me aqui do ensaio de Moshe Idel “Os Cabalistas da Noite” - publicado pelas Publicações Pena Perfeita, de Leça da Palmeira, numa tradução do inglês por Pedro Sinde - , como pre-texto para falar da qabbalah (uma “via” de iniciação”). Podemos, acaso, falar do sentido “poético” (será preciso lembrá-lo?) da qabbalah? E justamente da sua face paradoxal (nocturna) que vem da codificação escrita (Torá) de uma transmissão oral? A partir do conhecimento oculto de um deus oculto a qabbalah assumiu-se, contudo, como uma re-flexiva meditação “existencial”. Julgo, todavia, que os cabalistas (bem perspicazes) reencontraram-se nas suas luminosas indagações diante da região dos sonhos e das pulsões (a energia psíquica das pulsões, a libido, que sempre foi mantida por Freud de natureza sexual, contra a insistência de Jung em afirmá-la como energia psíquica não especificada). O cabalista não ignorou os sonhos (e o que nos remete ao espaço onírico e os seus indícios, marcas, cifras, as “chaves dos sonhos”- e sobre eles versa). E as “visões nocturnas” dos profetas - , chamando a atenção, tal como se encontra expressa na Bíblia, para as suas características premonitórias, e a sua interpretação, como no caso de José (Génese, XL, 16-25) e de David (Dan., II, 19), é atribuída a uma inspiração divina. É mais que sabido que o cabalista ambicionava captar, a seu ver, o que anda escondido: nesse horizonte das visões e das revelações tende à purificação pessoal. Aliás, o mundo do tempo surge, aos olhos do cabalista - que não se deixa seduzir por chaves de explicação demasiado fáceis - , como exílio. Convém não esquecer que Israel está em exílio, a Criação de Deus está em exílio, cada alma, vestida de um corpo terrestre que o separa do Um, está em exílio. Requer-se uma via de iniciação e de sabedoria. É suficiente que, de uma ou outra maneira, busquemos a re-integração (o retorno à origem)?
Uma lógica paradoxal
No contexto dos estudos da tradição mística e messianismo judaicos a face da mudança da pesquisa histórica-filológica no século XX teve um nome: Gershom Scholen (1897-1987). A sua obra passou a ser um ponto de referência mais fundada - talhada à medida de um estudioso do pensamento cabalístico - a tradição textual da qabbalah - e de um porta-voz moderno do judaísmo. Suficientemente conhecido em todo o mundo para não ser preciso insistir no relevo da sua personalidade, Moshe Idel é actualmente, sem dúvida, um dos mais brilhantes e criativos estudiosos da qabbalah (de que temos como exemplo a edição em português de “Cabala, Novas Perspectivas” (2000). Começando a sua carreira académica na Universidade de Haifa seguida da Universidade de Jerusalém, doutorou-se em qabbalah , com a distinção máxima, com uma tese sobre o místico do século XIII Abraham Schmuel Abulafia e seus escritos. Na trilha e muitos e notáveis historiadores da qabbalah - directamente ligados à escola de Gershom Scholen que acabamos de invocar - este pequeno opúsculo de Moshe Idel centra-se não apenas nos sonhos, mas nos processos - ou vias - de acesso à esfera divina (que os judeus designam o Santíssimo). O académico israelita - professor de História e Pensamento Judaico da Universidade de Jerusalém - conhecido pelo seu estilo rigoroso, prudente, objectivado, pouco límpido, tenta recapitular alguns elementos básicos das concepções cabalísticas do sonho - o estatuto do sonho - que, segundo a linguagem de Freud, revelam um inconsciente incognoscível, intemporal e rico de conteúdo que “prolifera no escuro” - dentro de um tríplice aspecto: a/ os sonhos-resposta (de teor mágico) com suas repercussões na cabala extática ( onde é preciso ter em conta os estados intermediários da consciência - garantia daquilo a que podemos chamar “revelações”); b/ os sonhos e as técnicas que projectam a ligação aos poderes angélicos e divinos - cuja recepção traz o selo do profeta Elias - e onde com frequência se evocam os versículos bíblicos de modo a proporcionar ao cabalista um mapa que adequa a rede de associações a um padrão maior de teor místico (onde se valida, por exemplo, a bibliomancia, como um conjunto de técnicas para descobrir respostas a interrogações na Bíblia abrindo-a ao acaso); c/as técnicas de indução de sonhos que nos conduzem, no seu alcance prático, às revelações visuais (onde, ao mesmo tempo, a aparição é tomada como dado auto-implilcativo e portanto lida como “evidência” que sustenta a visão sublime). O grande mérito deste opúsculo de Moshe Idel é revelar-nos os sonhos induzidos de alguns cabalistas que através da sua simbólica sob vários aspectos procuravam resolver os seus problemas. Sonhos interpretados e postos à vista de todos - enquanto relatos que lidavam com o tema da natureza do nome divino - , no qual se descobre a visão tradicional da sabedoria judaica secreta transmitida oralmente desde a mais Alta Antiguidade. Observamos que a tarefa do cabalista é desenvolver técnicas apropriadas, compreender determinadas experiências oníricas por detrás do sonho-resposta. Estamos mais uma vez diante de cabalistas cruciais e inspirados que se mostraram capazes de desenvolver procedimentos e técnicas místicas (usando uma linguagem figurativa e metafórica pouco trivial). Em cada um dos seus exemplos, a consideração que as técnicas se complementam sobressai imediatamente.
Ambiguidade da linguagem
A Cabalá - enquanto tradição oculta ou esotérica dos Hebreus - seguiu seu curso porque chegamos a levar em conta o grau em que os processos psicológicos estão presos pelos temas da ambiguidade da linguagem criadora de mundos. Esta ambiguidade da linguagem está inscrita na concepção mística da Cabalá, que apresenta o exílio como exterioridade, mas, no fim de contas, como território de onde se observa esse outro espaço sagrado. Sem focalizar aqui os seus exageros, pode-se dizer, que todas as culturas se impôs o interesse pelo estranho fenómeno do sonho e a sua decifração. Hoje já temos elementos suficientes de análise que nos permitem assinalar - partindo deste ensaio - que o judaísmo não constitui excepção. Por mais ambíguo que possa parecer, tinham a noção do sonho - através das crenças populares herdadas da antiguidade - como chaves para todas os enigmas e também viam no sonho uma mensagem divinatória. Os rabis talmudistas - identificando-se com o moderno freudismo - já admitiam que por trás do conteúdo manifesto do sonho existe um conteúdo latente representado nos elementos manifestos como uma forma modificada, simbólica ou não (Haddad, Gérard, L’Enfant Illegitime, Point Hors Ligne, 1990).
Sabedoria esotérica e secreta
Dir-se-á que a “Cabalá” - como é fácil de ver, através da análise da sua etimologia, - vem da palavra hebraica “Cabel”, que significa receber. É, portanto, um recebimento, uma tradição. Anima-a, portanto, uma tradição religiosa anterior, que vem, como se sabe, de longe. Um sopro de recôndita tradição oral e escrita remete-nos aos tempos de Moisés, no Sinai, alicerçado quase exclusivamente na interpretação da “regulamentação” divina. Note-se bem: em toda a sequência da sua formação e do seu desenvolvimento, chega-se a uma outra tradição, esotérica, àquilo que os cabalistas chamam Chen - numa palavra à graça ou sabedoria esotérica e secreta. Cabalá é tradição e, conquanto pareça hoje uma tradição aberta a qualquer um, poder-se-ia dizer que um discípulo cabalista é, duma maneira geral, um escolhido. Quer dizer: um iniciado em que o que está a ser ensinado, por exemplo, não pode ser compreendido através da discussão. Para além de ser uma tradição em que a pergunta é proibida, percebe-se melhor, agora, que esta tradição só possa ser compreendida por uma experiência mística própria. Não podia ser outro o pré-requisito (onde se impõem-se um certo número de princípios rígidos). É fácil compreender que na “iniciação” mística proliferem um certo número sinais (que dizem respeito ao “reconhecimento da face” ). Aqui se incluem sinais fisiognômicos, grafológicos, xiromânticos e mesmo a horoscopia, a astrologia, à qual a mística sempre se associava. Tudo se condensa, portanto, na parte da Cabalá que chamamos extática. Depois, viria a propósito falar de uma outra forma de Cabalá: a Teosófica. Note-se que a Cabalá Extática visava um processo de êxtase, que levaria a uma visão do divino. Esse misticismo, por sua vez, não se interessava em compreender as exteriorizações da glória divina, o que o coloca frontalmente contrário à Cabalá Teosófica, cujas obras tentam compreender justamente isso (lembremo-nos do Sepher há-Zohar).
Tradição e aventura
Eis-nos diante de numerosos cabalistas - expoentes da cabalá - que praticaram uma escrita alusiva e elíptica, uma espécie de “semi-dizer”. As doutrinas da mística judaica, em algumas das suas raízes, presumivelmente tão velhas como a revelação da Torá a Moisés, que podemos atribuir ao profeta Elias, estão correlacionadas com o seu ensinamento esotérico, a revelação dos segredos do Pentateuco. Outro exemplo é a da visão de Ezequiel, da Merkavah (o carro de Deus) e do Templo ideal dos tempos escatológicos. Dá-se conta da sua importância, de uma forma mais aguda, quando sabemos ter sido, desde o século XIII, na Provença, o termo aceito popularmente para se referir aos ensinamentos esotéricos que dizem respeito a Deus e a tudo que Deus criou. No entanto, haverá que ter em conta que já existia, em Israel e no Egipto, no começo tumultuado do cristianismo, um corpus considerável de saber teosófico e místico (basta pensa-se nos livros apocalípticos, dos quais o livro de Enoch é o mais notável). Partindo de dois textos bíblicos - o primeiro capítulo de Ezequiel e o primeiro capítulo do Gênesis - os cabalistas desenvolveram dois modos de especulação visionária: maaséh merkaváh (“o trabalho do Trono-Carruagem”) e masséh bereshít (“o trabalho da Criação”). Não é exagero dizer-se que usaram, pois, para os seus fins a teoria da emanação dos neo-platónicos. A Cabalá coloca a sua tónica dominante numa doutrina do Exílio. Cabalistas como Isaac Luria consideravam que a própria Criação se tornou Exílio. O lado esotérico do judaísmo ligado ao campo das questões assumidos pela cabalá como um caminho de elevação espiritual - uma mística como diz Marc-Alain Ouaknin em “Mystéres de la kabbale”- , poderia ser estudado, pelo menos, em duas direcções. A primeira concerne à cabalá teosófica, no qual a teoria da estrutura complexa do mundo do divino vem naturalmente se inscrever, e que toca as noções cosmológicas. A segunda direcção, concerne à cabalá teúrgica, consiste, em princípio, num conjunto de comportamentos rituais ou de meditação, sendo que este conjunto de experiências permitem suscitar um estado de harmonia na divindade ou influir sobre a sua relação com os homens. Poderíamos também reportar-nos à oposição entre cabalá especulativa (younit) ou filosófica (próxima do neoplatonismo e do estoicismo) e a cabalá dita prática (ma`assit) enquanto magia naturalis e via escatológica. A partir da aproximação das duas formas de cabala - teosófica e teúrgica - Marc-Alain Ouaknin enuncia uma nova formulação - a cabalá ética e a cabalá existencial - e aponta, igualmente, a dialéctica entre a tradição e a aventura (Ver Mystéres de la kabbale, éditions Assouline, Paris, 2000).
“Os homens do segredo”
Porque, apesar do que se tem dito em sentido oposto, o judaísmo move-se no interior de oposições permanentes 1º entre uma dimensão feminina da divindade (A Chekinah ou “presença”) e patriarcal; 2ª a necessidade de conservação e a necessidade de transformação; 3ª a via que conduz à topia da utopia imaginariamente concebida - o Reino - e a figura e o nome do Messias. Simultâneamente, ou na esteira de Moshe Idel, muitos investigadores de mérito dedicam-se à tarefa da restauração da verdade histórica da cabalá. Tanto haveria a citar que só me abalanço a referir Charles Mopsik - um pensador sem igual entre os estudiosos contemporâneos da Cabalá. Ele expõe, com efeito, que ao lado de uma necessária apreensão de uma época “filosófica-angeológica”, marcada pelas especulações em torno do alfabeto, é igualmente necessário pôr-se, ao mesmo tempo, em relevo uma época “teosófica-sefirótica”, marcada pela centralidade do sistema dos sefirot (Charles Mopsik, Cabale et cabalistes, Bayard Editions, Paris, 1997, p. 53) . Resta-nos, pois, examinar o Zohar que, enraizada na filosofia da Cabalá, se acomoda às parábolas e imagens mais paradoxais. Neste caso, a questão de saber se esta obra literária pode, em princípio, ser considerada a “súmula” da cabalá. Como já sabemos os ensinamentos da cabalá que, em seu conjunto, atravessaram o sul de França até Sefarad - universalizam-se - e passaram a ser cultivados em conventículos de iniciados de que surgiram as imponentes construções especulativas de Nachmânides, Abulafia, Moisés de Burgos, Jacó de Segovia, Iossef Gikatila, etc.. A mudança de clima cultural impôs aos “Baále há-sod” (“Os homens do segredo”) um novo trabalho de renovação. Realizaram-no excogitando novas interpretações da Torá, valendo-se da herança gnóstica, teosófica e pietista. Uma das tentativas mais ousadas nesse sentido (e é também a principal expressão da literatura cabalística) foi, no último quartel do século XIII, o Sefer há-Zohar ou Livro do Esplendor. É algo bem específico e distintivo na vasta e complexa unidade do génio sephardi. Assenta sobre uma espécie de repositório, um epos de uma aventura espiritual judaica, uma espécie de enciclopédia esotérica compilada por Moisés de Léon (morto em 1305). Ao lado da Bíblia e do Talmud é, por conseguinte, o terceiro livro de Israel. Eis aí um texto cuja força poética e voo místico torna -se assim uma filosofia operativa a redescobrir.
A Psicanálise e o saber talmúdico
No que respeita à psicanálise, a sua parte referente à explicação do sonho como método de cura de nevroses quanto possível, se abre às chamadas “camadas inconscientes, ocultas, da alma humana” (p. 9). Os sonhos enquanto “abertura para as camadas recalcadas da consciência” (p. 9) aparecem, dizíamos, “como revelações vindas dessa terra longínqua que é o inconsciente” (p. 9) (o Isso como o Eu e o Supereu estruturado como uma linguagem). A importância do livro de Sigmund Freud - Traumdeutung, que conhecemos como “A Interpretação dos Sonhos” é o ponto de partida para os conceitos posteriores que enriqueceram e desenvolveram a doutrina analítica, isto é: “o sonho é apenas a realização disfarçada de um desejo recalcado”. Examinemos este ponto. Na psicanálise a questão central é a do sujeitoTrabalha, porém, a partir de certas metáforas básicas. O ponto de vista psicanalítico deriva da noção do invariável fundo da “mesmidade” da pulsão (Trieb) que é capaz de atingir o seu alvo - a satisfação. Tudo se reporta ao corpo, o corpo animal, marcado pela “falta” e, assim, os próprios mecanismos de introjeção e de expulsão. Devemos recordar-nos, como já se disse, que tanto os psicanalistas modernos como os cabalistas o sonho - tanto quanto sabemos - “pode ser sinal de estados ou sentimentos de privação, tensão ou até de uma pressão ou repressão mais graves” (p. 9). Hoje sabemos que a psicanálise toma impulso, sobretudo, a partir das estruturas fundamentais do judaísmo - aquilo que Gérard Haddadd chama o saber talmúdico - e, em certos momentos, as resolve e subverte. Ela revela ser, mais do que um midrásh do quotidiano, desacralizado, uma prática da letra e do significante. Algumas razões há, decerto para isso - e seria difícil, mesmo em resumo, examiná-las nestas páginas de síntese. Tanto mais que repousa não, precisamente, apenas sobre a interpretação dos sonhos, mas também sobre os actos parasitários da nossa existência, o esquecimento dos nomes próprios, e outros lapsos da mesma natureza.
Moshe Idel, Cabalistas da Noite, tradução de Pedro Sinde
THE HISTORY OF THE MARRANOS OF
mlopesazevedo, http://www.ladina.blogspot.com
The Jews of Portugal pre-date the founding of the nation in 1143. When Afonso conquered
Throughout most of the Middle Ages, Portuguese Jews (Sephardim) enjoyed unparalleled freedom, wealth and power. They occupied key positions in government, academia, and commerce, and especially the professions of medicine, science and law. Even when Hebrew was later prohibited, doctors could continue to possess Hebrew books. Places of worship and schools flourished. Jews established the first printing presses in
Following the death of King John II in 1495, his successor, Manuel sought to marry the daughter of Ferdinand and Isabel. As a condition of their consent to the wedding, the Catholic monarchs of the newly created country of
The scheming Manuel, coveting the Spanish throne, did not want to lose his most learned, creative and productive subjects, not to mention his personal physician, tailor, royal mathematician, royal astronomer, his government financiers, etc. He encouraged “his” Jews to convert to Christianity. He tried to persuade and cajole them, even bringing converted rabbis from
Henceforth there were supposedly no more Jews in
Following the forced baptism, the King encouraged marriages between Old Christians who had titles and “pure blood” and New Christians. He prohibited the inter-marriage of New Christians. There would be no inquiry as to the religious practices of New Christians in their private homes for 20 years but they were not free to leave the realm. However, following the
The
Distressed at the growing rift between New and Old Christians, the King sought permission from
The ambiguous Portuguese Marranos became known throughout
The Marranos prospered both in business and government wherever they went. It was a the son of a Marrano, rabbi Manasseh ben Israel (Manuel Dias Soeiro) of Amsterdam, born in Lisbon or Madeira, who convinced Oliver Cromwell in 1656 to allow Jews back into England. The Marranos established the coffee, diamond and tulip industries in
This rising merchant class created the world’s first truly global Empire (see The First Global Village, How
The philosophers Baruch Espinoza, Frances Sanches, Uriel Acosta, Montaigne, and David Ricardo were all Marrano descendants. So were rabbis Ben Israel and Aboab Fonseca, the first rabbi in the
It was not until the liberal revolution of the early 19th century that the Inquisition was abolished. Although the Marquis of Pombal invited Jews back to
However, to the surprise of many, indigenous Marranos did survive nearly 300 years of the Inquisition. In 1920, Samuel Schwarz, a Polish engineer working in
About the same time as Schwartz learned of the Marranos of Belmonte, Captain Barros Basto, a decorated World War I veteran founded a synagogue for Marranos, the Mekor Haim synagogue in
The Captain was a visionary leader. In the middle of the depression and in face of the wave of anti-Semitism in Europe, and with the financial help of the descendants of the Marrano Diaspora in New York, London, Amsterdam, Paris, Hamburg and the Kadoorie family of Shanghai, the Captain built a huge magnificent synagogue in Porto, which he dubbed, "the Cathedral of the North". He wanted to make sure no Marrano would feel ashamed walking into a synagogue. He would impress them. It would be a source of pride and a beacon of strength to all the Marranos of Portugal, especially in the north. While the Nazis were destroying synagogues throughout
It did not take long for the Catholic Church to respond. They built a bigger church, in the same architectural style as the synagogue, just up the road. Teachers and doctors who had adhered to the Captain’s call suddenly had no students or patients. There were mischievous public demonstrations against the presence of synagogues in the provinces. The totalitarian government led by Salazar in
However, the story is not over. Today, following the visit of the Sefardi chief rabbi Shlomo Amar to the Mekor Haim Kaddoorie synagogue in
Porto, Portugal
m lopes azevedo
Ladina, a registered non-profit society based in Porto, Portugal launched its fall series of “tertulias” (ie salons) with the first session on Captain Barros Basto aka Ben Rosh, the “Apostle of the Marranos”, according to noted historian Cecil Roth. The event which took place at the recently opened Literary Club of Porto on the banks of the Douro river, featured guest speakers professor Elvira Mea (co-author of “Biografia de Barros Basto…”, 1997, Porto, Afrontemento), Antonio Melo (veteran investigative journalist), Rabbi Elisha Salas of Shavei Israel, and the Captain’s granddaughter, Isabel. The meeting room was elegantly decorated with a lovely bouquet of flowers courtesy, Mr. F. Morais, president of the Luis Araujo Foundation which operates the club. On display were the Captains medals from the first World War along with his sword and hat as well as various copies of many of his publications. There was also a large black and white framed picture of the Captain in uniform. His presence radiated amongst the full capacity crowd.
The guest panel was introduced by Alexandre Teixeira Mendes, a Marrano poet. He briefly commented on the evolving ambivelant nature of Marranism in a Christian world which professor Yosef Haym Yerushalmi’s characterizates as a uniquely Portuguese phenonenum.
Professor Mea, a noted authourity on Portuguese Jewish history, decribed the Captain as a visionary who took on the task of rescuing the secretive Marranos of Northern Portugal from obscurity. She described his life long work and eventual persectution by Salazar’s fascist dictatorship and its accomplice, the Catholic Church. More importantly, she described the Captain as an intellectual in his own right, a professor of Hebrew at the University of Porto before it too was shut down and of the Captain’s valuable original research into the origins and social history of the Jews of Northen Portugal. She spoke of the Captains courage in continuing with his lifes work despite the finacial difficulties his family faced when he was expelled from the army on spurious grounds. Notwithtanding, the Captain continued to publish “Halapid” until 1958, an educative journal he founded to dessiminate information on the Torah, Marrano history and liturgy and international Jewish issues. Lastly, she said that the Captain’s work was misunderstood, even in certain Jewish communities because it did not fit pre-conceived notions of normative Judaism.
The next speaker, journalist Antonio Melo who launched a public campaign in the mid 1990’s in the national newspaper, “O Publico” to rehabilitate the Captain, spoke of the Kafkauesque nature of the case, of the obstinancy of the Military and political ministers. The Captain’s democratic Republican leanings and association with masonry had so permeated the case that nobody wants to deal with the issue. Further, even though the civil police and a military tribunal had cleared the Captain of trumped up charges of immoral homosexual acts, the decision by Salazar’s Interior Minister to expell him from the army in 1937 has been successivily upheld after the April 25th revolution, in some cases by officials who have not even bothered to read the file.
After some eloquent words from rabbi Elisha Salas, who is conducting return clasess for Marranos as well as conducting services at Mekor Hayem synagogue, the Captain’s granddaughter Isabel Barros Basto expressed her pride that despite the continuos and relentess persecution of her family, her grandfather’s magnificant synagogue stands as a beacon for the emerging Marrano reinassance of today.
Upcoming tertulias:
October 30th- The Jews of medieval Porto
November 27 (tbc) Uriel da Costa-the first secular Jew
MANIFESTO DE APRESENTAÇÃO
Nos últimos tempos sucederam-se uma série de acontecimentos - a chegada de uma nova Séfer Torá pelas mão do Grão Rabino Sefardita á Sinagoga Mekor Haim (Fonte da Vida) e o início do caminho do retorno à Casa de Israel para todos os marranos (“anusim”) - veio despertar em nós a consciência e a necessidade de concretizar algo que desse substância a desejos e sentimentos que partilhavamos à muito.
Daí a iniciativa de constituição de uma associação cultural que fosse o elemento dinaminizador e aglutinador de todos aqueles que sentem interiormente o seu ser judeu – submetido ao longo de mais de 500 anos por inquisições, conversões forçadas e outras prácticas antisemíticas - e que anseiam pela sua livre afirmação, como um direito à pràctica inalienável do seu culto e á liberdade de expressão da sua herança religiosa e cultural, livre de qualquer restricção ou opressão.
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Além disso porque nos reconhecemos como herdeiros de uma vasta cultura que teve um papel fundamental na descoberta e na criação do mundo como hoje o conhecemos.
Foi aqui, na Peninsula Ibérica, - a nossa querida SEFARAD – que foram caldeados alguns dos mais importantes instrumentos do saber e conhecimento humano. Lembremos o “Zohar” (Livro do Esplendor, o nascimento da Cabala, a investigação no campo da medicina e da navegação maritíma, entre muitas outras manifestações culturais e artísticas expressas através de nomes como Maimónides, Halévi, Isaac de Luria, Abraão Zacuto, Josef Vizinho, Amado Lusitano, Pedro Nunes, Garcia da Orta, António José da Silva, Uriel da Costa, Dona Gracia Nazi e mais recentemente o Capitão Barros Bastos.
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É por isso fundamental a criação desta associação como instrumento de dinaminização e divulgação da CULTURA SEFARDITA, pois foi sempre através desta que a tolerância e a saudade se expressaram, em convivência pacífica com os demais povos da peninsula.
Denominamo-la de “LADINA” com o duplo sentido de lembrar a língua comum dos judeus sefarditas (o LADINO) e guardar o seu significado semântico (alguém legítimo, puro, e ao mesmo tempo sagaz, ágil e astuto).
Será desta forma que procuraremos promover e divulgar a nossa herança cultural e religiosa, convidando todos aqueles que se identifiquem com estes ideais a se associarem a nós para melhor concretizarmos os nossos objectivos.
Porto, 24 Kislev 5765(7 Dezembro 2004) – Chanuká (festa das Luzes)
Os membros fundadores
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"LADINA", AN ASSOCIATION OF SEPHARDIC CULTURE
Recently, a series of events in Porto, Portugal, such as the dedication by the Sephardic grand rabbi Shlomo Amar of a new sefer Torah to the Kadoorie synagogue (Mekhor Haim-Fountain of Life-built by captain Barros Basto in 1938 specifically for marranos-anousim) and the start of a return program to the house of Israel under the supervision of rabbi Elisha Salas, has inspired us to create Ladina as a vehicle to express our desires and our long held sentiments.
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After 500 years of suppression by the Inquisition, forced baptisms and other anti-Semitic practices, we wish to affirm our inalienable right to practice the traditions and rituals of our Sephardic heritage openly and without fear of restrictions or oppression.
We are the inheritors of a vast culture which has significantly contributed to the development of the modern western world. It was here in the Iberian peninsula, our dear Sefarad, that some of the world’s greatest thinkers left their imprint on modern civilization. Significant advances in medicine, biology, philosophy, literature, maritime navigation and mapmaking were created by our illustrious ancestors such as Judah Halevi, Abraham Zacuto, Joseph Vizinho, Leon Hebreu, Amado Lusitano, Pedro Nunes, Garcia da Orta, Antonio Jose da Silva, Uriel da Costa, Dona Gracia Mendes and more recently Captain Barros Basto. Moses Maimonides (Rambam), a doctor and philosopher is still regarded as one of the greatest interpreters of the Torah of all time and Isaac de Luria, is the founder of modern Kabala.
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Ladina will divulge and disseminate the Sephardic heritage in the tradition of tolerance and co-existence that created the golden age of Sefarad. We chose Ladina to represent both the common language of the Sephardic Jews of Sefarad (Ladino) and to preserve its semantic meaning as used in today's colloquialism, "he (or she) is ladino" (quick on the uptake, astute).
We invite all those who identify with these ideals to associate themselves with us to better realize our objectives.
Porto, Portugal, 24 Kislev 5765(December, 7, 2004)-Chanukah
The founding members