2007/11/26

Petição Memorial massacre judaico Lisboa 1506
(Online Petition to erect a memorial of the anti-Judaic massacre of Lisbon of 1506)

Date: Sat, 24 Nov 2007 19:04:56 +0000
From: "Jorge Martins" <martinscjorge@gmail.com>
Subject:

Caros/as amigas,
É preciso fazer alguma coisa para que o memorial às vítimas do massacre judaico de Lisboa de 1506 seja erguido no próximo dia 19 de Abril.
Se concordar assine e divulgue: http://www.PetitionOnline.com/samusque/
Cumprimentos,
Jorge Martins.

2007/11/19

Massacre Judaico de Lisboa de 1506-memorial

CAMARA MUNICIPAL DE LISBOA
(For English version see www.friendsofmarranos.blogspot.com)

Proposta n.º 423/2007
(Esta proposta ainda não foi votada)

Pres: António Costa gab.presidente@cm-lisboa.pt

Vereador: José Fernandes jose.sa.fernandes@cm-lisboa.pt

Vereadora: Maria Rosetta gab.cpl@cm-lisboa.pt


Considerando que:

1. No próximo dia 16 de Novembro será assinalado o Dia Internacional para a Tolerância, entendido universalmente, nos termos da declaração de princípios sobre a tolerância adoptada pela UNESCO, não como concessão, condescendência ou indulgência, mas sim como atitude de respeito e de reconhecimento mútuo, animada pelo reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais;

2. O Dia Internacional para a Tolerância é uma chamada universal a uma das maiores virtudes da humanidade, consubstanciada no empenhamento activo e na compreensão da riqueza e da diversidade da humanidade;

3. A pedagogia de combate ao racismo, à discriminação, à xenofobia e a todas as formas análogas de intolerância, constitui um eixo fundamental da democracia e da coexistência pacífica entre os povos;

4. No ano de 1506, a cidade de Lisboa foi palco do mais dramático e sanguinário episódio antijudaico de todos os que são conhecidos no nosso território;

5. Durante três dias, 19, 20 e 21 de Abril, estes acontecimentos, que tiveram início junto ao Convento de S. Domingos (actual Largo de S. Domingos), levaram a que cerca de dois mil lisboetas, por mera suspeita de professarem o judaísmo, tivessem sido barbaramente assassinados e queimados em duas enormes fogueiras no Rossio e na Ribeira;

6. Evocar este hediondo crime em que consistiu o massacre de 1506, inscrito numa política de intolerância que, segundo Antero de Quental, contribuiu para a decadência deste povo peninsular, será fazer justiça póstuma a todas as vítimas da intolerância e constituirá uma afirmação inequívoca de Lisboa como cidade cosmopolita, multiétnica e multicultural.


Os vereadores do Partido Socialista, a vereadora Helena Roseta e o vereador José Sá Fernandes, ao abrigo da alínea b) do n.º 7 do art.º 64.º da Lei 169/99 de 18 de Setembro, com a redacção dada pela Lei 5-A/2002 de 11 de Janeiro, têm a honra de propor que a Câmara Municipal de Lisboa, na sua reunião de 31 de Outubro de 2007, delibere:


1. Instalar na cidade de Lisboa um Memorial às Vítimas da Intolerância, evocativo do massacre judaico de Lisboa de 1506 e de todas as vítimas que sofreram a discriminação e o aviltamento pessoal pelas suas origens, convicções ou ideias;
a) O Memorial localizar-se-á no Largo de S. Domingos, deverá ter como elemento central uma oliveira de grande porte e contemplará uma lápide evocativa do massacre judaico de Lisboa de 1506, bem como um arranjo urbanístico da área envolvente, competindo a sua concepção, execução e instalação aos serviços municipais;
b) A inauguração do Memorial terá lugar no dia 19 de Abril de 2008, em cerimónia promovida pela Câmara Municipal de Lisboa, para a qual serão convidadas todas as comunidades étnicas e religiosas da Cidade.



Os Vereadores

2007/11/13

COMUNIDADE ISRAELITA DO PORTO, SYNAGOGUE ACTIVITIES NOV/DEC 2007

FINALMENTE EM CASA
(English version see www.friendsofmarranos.blogspot.com)

Zeev ben Amaral

FINALMENTE EM CASA

www.comunidadeshemaisrael.blogspot.com


Finalmente... sim, finalmente, em casa. Foi a 4 de Novembro de 2007. Um dia inesquecível, o mais importante da minha vida e para a minha família. Não é uma casa qualquer, mas as minhas origens familiares – o povo judeu, Israel e o judaísmo. Uffff, que alívio e quanta alegria...é o mesmo sentimento de um atleta, quando corta a linha da meta...Puxa...cheguei...e para trás ficaram um conjunto de sentimentos, uns de dor, outros de ansiedade, outros de desespero, etc...finalmente consegui. Pois é, foi um percurso de muitos anos, que começou em 1985, aquando da minha primeira ida para Israel, onde permaneci até finais de 1991. Depois foi em Portugal, no ano de 2003. Posteriormente e já neste ano de 2007, tentei em Israel mais uma vez, o meu retorno e finalmente... finalmente... finalmente, uma porte se abriu, em Nova Iorque, nos estados Unidos da América. Esta jornada começa em Israel, mais precisamente em Jerusalem. Eu sou natural de Moçambique, tenho 53 anos, pai de dois filhos adultos. O mais velho chama-se João e é casado com a Elizabeth, uma cidadã americana. O mais novo chama Bruno e é solteiro. Todos residem em londres. Ah, eu sou amigo de um outro Moçambicano, que também reside em Israel, o Avner. Após tentativa desesperada e falhada, de retornar através de uma organização ortodoxa e após mais uma conversa sobre o assunto com o meu amigo Avner (estudante de Yeshiva no Machon Meir - Jerusalem), vem-me á memória o nome do Yaakov Gladstone, residente em Manhattan-Nova Iorque e presidente da “Organização Amigos dos Marranos” (friendsofmarranos@gmail.com) . Esta organização dedica-se a transmissão da educação judaica e também presta ajuda na publicação de histórias ou memórias marranas. Continuando, assim se inicia toda esta minha caminhada, na tentativa de finalizar o meu retorno. Telefono para o Miguel de Belmonte e pergunto-lhe se tem o número de telefone do Yaakov Gladstone. Responde-me, que não, mas que iria entrar em contacto com o Manuel Azevedo, porque este concerteza, que sabe. Para quem não o conhece, o Manuel Azevedo é um marrano, advogado Canadiano, de origem Portuguesa e muito participativo em vários movimentos culturais pró-judaicos e um dos fundadores da organização “ladina”. E assim foi, o Miguel (um membro da comunidade judaica de Belmonte) envia-me um email com o número de telefone do Yaakov. Telefono ao Yaakov Gladstone e peço se lhe seria possível encontrar um rabino interessado em efectuar uma “mitzvah” (quem salva uma alma salva a humanidade). O Yaakov por telefone responde-me, que iria tratar do assunto. E assim foi. Passado alguns dias, o Yaakov manda-me um email confirmando a possibilidade de o meu retorno ser efectuado em Nova Iorque. Estas as palavras no seu email:

Dear Zeev

Rabbi Posner would like to perform the Returning Ceremony on Nov.4, 2 PM. at Temple Emanu El. So please make sure to arrive before that date. Rabbi Posner will be arriving from Israel on Nov. 1. I will invite friends and well wishers for the Ceremony. I learned last night that very close friends of mine, Israelis from Tel Aviv, who are now vacationing in Greece will also be coming to stay with me, either end of Oct. or beginning of Nov. So they too will be invited to the Great Event in your Life and we will all share in your SIMCHA.

Como seria de esperar, telefono ao Avner e contei-lhe a novidade. Eu encontrava-me em Naharyia e o Avner em Jerusalém. Estamos em Outubro de 2007 e eu ansioso por chegar áquele dia 4 de Novembro. Começo a efectuar os preparativos para a minha deslocação a Nova Iorque. Por Internet compro as passagens aéreas e os bilhetes de autocarro. No dia 29 de Outubro, pelas 2 da madrugada, parto de Naharyia de combóio para Tel Aviv – aeroporto Ben Gurion, viagem, que leva cerca de 2 horas. Os combóios são modernos, cómodos e climatizados. Embarco, pelas 6 da manhã, num voo da Israir para o aeroporto de Stanstead, nos arredores de Londres. Fico cerca de 20 horas em Londres na companhia dos meus filhos e nora. Aproveito a ocasião para lhes contar em pormenor todo este processo e toda a carga sentimental e emocional envolvida. Escusado será de referir, que ficaram radiantes e mais, esperançados e convictos. No dia 30, às 9 da manhã tinha de estar no aeroporto, mas como ia num autocarro da National express e tinha havido um grande acidente, o tráfego estava condicionado, e assim perdi o vôo. Paguei mais 95 libras para não perder o bilhete e poder embarcar no dia seguinte. Com esta trapalhada, acabei por ficar 24 horas dentro do aeroporto de Gatwick. Mas ainda bem, pois já no final da madrugada encontro o meu amigo Manuel Azevedo e toca a conversar sobre o seu regresso ao Canada e a minha ida á América. A última vez, que o tinha visto foi num vôo, que ambos fizemos de Lisboa para Londres, penso em Maio e o desembarque neste aeroporto - Gatwick. Em jeito de piada, o Manuel Azevedo diz: para nos vermos é sempre em aeroportos. Embarco de Londres para Nova Iorque via Bermudas. Foi uma viagem fantástica, apesar das 10 horas com a paragem nas Bermudas. Chego finalmente ao aeroporto Kennedy e apanho um autocarro para Manhattan, que me custou $15 e cerca de uma hora. Desço na 40 street e a casa do Yaakov fica entre a 38 street e a 37 street na Lexington Avenue. Razão tinha um amigo meu de Moçambique, que reside e trabalha em Londres, de que em Manhattan os turistas passam a maior parte do seu tempo a olharem para o céu, os arranha-céus são mesmo grandes. Toco á campainha do Yaakov e é uma alegria para ambos. Estamos no dia 31 de Outubro, uma quarta-feira, umas 6 da noite locais. A diferença horária é de -5 horas, que as de Portugal. Tive , a quinta-feira e shabat para me preparar para o domingo. O shabat foi passado na sinagoga. Nestes dias, a ânsia era cada vez maior, pois o grande dia aproximava-se. Finalmente, no domingo, levantei-me cedo para me preparar para a grande e inesquecível festa. Eu e o Yaakov saímos de casa por volta das 12:45, a fim de apanhar-mos um autocarro e depois um outro. E tudo isto leva tempo e nós tinhamos combinado com outras pessoas em encontrarmo-nos á entrada da Sinagoga Templo Emanu El, ás 13:30. Fui todo o tempo a conversar com o Yaakov sobre o solene acto e escusado será dizer-vos, que parecia um vulcão, quase a entrar em erupção. Encontrámo-nos todos, no átrio de entrada do templo e depois de alguma conversa e risos, eis, que chega o rabino DAVID POSNER. O rabino Posner é o responsável pelo Templo Emanu El, Congregação Reformista. Vinha com um sorriso enorme por poder efectuar mais uma grande “mitzva” e agradeceu ao Yaakov esta oportunidade. Anteriormente, o rabino Posner efectuou a cerimónia de retorno de um outro português, o Fernando, que se encontra em Londres. O rabino acendeu as luzes interiores do Templo e que espanto, um Templo lindo, grande de altura, largura e comprimento. Nunca tinha entrado numa sinagoga tão linda, majestosa, imponente, fora do comum. É claro, que eu estava todo orgulhoso, porque até o cenário era tão espectacular...tudo contribuía para a minha fornalha interior aquecer e a pressão aumentar...que alegria interior...mas que princípio de cerimónia. A certo passo, o rabino pede-me para repetir após ele, a seguinte declaração:

No dia 4 de Novembro de 2007 – 23 de cheshvan, de acordo com o calendário tradicional Hebraico, na congregação Emanu El, em Nova Iorque, Zeev Amaral entrou para o histórico pacto entre D`us e o povo de Israel. De sua livre vontade proferiu a seguinte declaração:

Fazendo parte deste pacto eterno entre D`us e o povo Judeu, os filhos de Israel, Eu pronuncio esta afirmação. Eu escolhi por minha livre vontade ser Judeu. Eu aceito o Judaísmo e a exclusão de todas as outras religiões, fés e prácticas e agora afirmo a minha lealdade ao judaísmo e ao povo judeu em qualquer circunstância. Eu prometo estabelecer um lar judaico e participar activamente na vida da Sinagoga e da comunidade Judaica. Eu comprometo-me em ter observância na Torah e nos conhecimentos judaicos. Se for abençoado com crianças, Eu irei educá-las como judeus.

Pronunciei a SHEMA e em seguida, o certificado assinado pelo rabino e três testemunhas, foi-me entregue para eu o assinar. Assim, o fiz. Assinei o certificado com o meu nome Zeev Ben amaral e de seguida o Rabino Posner entregou-me o certificado e diz-me: welcome back to our people. Contive-me emocionalmente, pois o rabino tirou um Sefer Tora da Arca e entregou-me para a segurar para grande satisfação minha, mas também como sinal de compromisso. Segurei a Tora com uma vontade enorme. Aqui, sim, não me controlei e fiquei com um sorriso e uma expressão de contentamento; de orgulho; de dever cumprido; de ter atingido o objectivo; de ter regressado a casa; de me ter reconectado com as minhas raízes; de estar em família novamente; de ter regressado a casa; de pertencer ao povo de Israel; de ter orgulho na minha Tora e poder ser observante; poder usar o meu tefilim, talit e kipa; enfim, de ser judeu. Como todos devem calcular, a alegria é enorme e aquele dia foi o mais intenso e inesquecível da minha vida. Consegui finalmente, reiniciar o trajecto da família materna (Portugal) e paterno (Espanha), no ponto onde a inquisição o tinha abrupto e forçosamente parado. O rumo da minha vida mudou novamente de direcção e desta vez, voltando a integrar o percurso familiar original – o mundo judaico.

*** Quero deixar aqui, uma palavra de apreço e agradecimento ao YAAKOV GLADSTONE, pessoa incansável e indispensável neste finalizar de trajecto - a cerimónia. O meu muito obrigado do fundo do meu coração.

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Na foto da esquerda para a direita, o rabino Posner, eu e o Yaakov Gladstone.