2006/11/07

QUEM SOMOS NÓS
m lopes azevedo
(de www.lusitania.ca)

Jorge Martins na sua recente obra
“Portugal e os Judeus” (Nova Vega,
2006-3 Volumes), conclui que
Portugal nunca mais conseguirá
recuperar a sua alma Judaica “Na
verdade, perdemos a nossa plena
identidade a partir do início do século
XVI e nunca mais a recuperamos até
hoje.”
Por outras palavras ele refere que apesar da clara presença
do Judaísmo no Ser Português, ainda não conseguimos
assumir, em pleno século XXI, a dimensão judaica da nossa
identidade.
É verdade que Portugal é considerado um país Católico e os
seus cidadãos Católicos. Também é verdade que a sua história judaica é
maioritariamente desconhecida, mesmo entre as
ditas classes mais instruídas. É verdade que a Inquisição
conseguiu exterminar quase por completo qualquer
vestígio desta herança Judaica. Actualmente não existe um
sinal, uma placa, ou qualquer espécie de reconhecimento
público na Baixa lisboeta que nos indique que aí, em Abril
de 1506, 4.000 Cristãos-Novos foram massacrados. Nem o
local onde os Cristãos-Novos ou Marranos foram deixados
a apodrecer durante cerca de 10 anos em prisões debaixo do
Rossio em pleno coração da encantadora cidade de Lisboa,
nem nas praças públicas de Lisboa, Coimbra ou Évora, onde
portugueses patriotas foram decapitados ou queimados
vivos. Em Évora o símbolo maior da Inquisição permanece intocável ao
lado de um edifício público sem qualquer sinal do horror que aí ocorreu.
Ninguém foi acusado. Nenhuma indemnização foi paga.
Contudo, a memória ainda permanece. A obra "seminal" de
Jorge Martins é em si mesma, um monumento à identidade Judaica de
Portugal. E esta judaicidade continua bastante
presente nas pessoas. A Inquisição e a Igreja Católica não
triunfaram. Numa recente sondagem levada a cabo pela
União Europeia, Portugal era o país europeu com menor
anti-semitismo. O antigo imã e rabino em Lisboa eram
amigos e visitavam os seus templos. Uma criança cujos
actos poderemos apelidar de “esperto” chama-se
“rabino” em português. Na região de Trás-os-Montes, uma
mulher que passe o seu tempo em conversa diz-se que está a
fazer sinagoga. Existem imensos nomes de localidade como
Sinagoga no Algarve, ou Vale dos Judeus, ou nomes de ruas
como o Beco da Judiaria em Sintra, Pátio dos Judeus em
Coimbra, Monte dos Judeus no Porto, ou Rua da Judiaria
em Lisboa, etc. Actualmente ainda subsiste em Tomar um
edifício do século XV que chegou a ser sinagoga e que afora
alberga o Museu Luso Hebraico (a maioria das sinagogas
foram convertidas em Igrejas, sobretudo da Misericórdia).
E existem sinagogas activas em Lisboa, Porto e Belmonte.
O que Jorge Martins alega, e que a maioria dos seus
generosos críticos da sua obra têm referido é a enorme
invisibilidade desta Judaicidade.
Contudo, tendo em conta que já decorreram 300 anos da
Inquisição e 40 de Governo totalitário, é incompreensível
que demore mais algum tempo a recuperar a essencialidade de identidade
portuguesa.
Mas ela permanece e será recuperada.