Showing posts with label tertulias. Show all posts
Showing posts with label tertulias. Show all posts

2007/07/03

LADINA TERTÚLIAS, SATURDAY, JULY 7, 2007, 21.30, Literary Club of Porto

Lisbon 1506, The Massacre of the Jews, Susana Bastos Mateus

Personalities and Stories from the Inquisition of Porto, Maria Fernanda Guimaraes

Marranos in Brazil, Sergio Mota


2007/03/15

LADINA TERTULIAS
28'03'2007, PORTO

LANÇAMENTO EM PORTUGAL DA BÍBLIA HEBRAICA (TANACH)


COM JAIRO FRIDLIN DA EDITORA E LIVRARIA SEFER, A LIVRARIA JUDAICA DO BRASIL

BOOK LAUNCH IN PORTO On MARCH 28th OF HEBREW BIBLE IN PORTUGUESE with Jairo Fridlin, editor and publisher of Sefer, Brazil's foremost Jewish publisher.
(The Lisbon launch will be on March 27, 6.30 at FNAC in Chiado).

(A versão em português do Tanach tem 880 páginas, capa dura de luxo e uma lombada de apenas dois centímetros e meio, porque empregou-se o chamado papel bíblia, cuja folha pesa apenas 44 gramas. O livro é uma obra coletiva. Ele o traduziu junto com David Gorodovits, do Rio, e teve a revisão técnico-religiosa dos rabinos Marcelo Borer, Daniel Touitou e Saul Paves, e dos professores Norma e Ruben Rosenberg, Daniel Presman e Marcel Berditchevsky.)

Entrevista com Jairo Fridlin

Quais as novidades desta edição?
A maior, sem dúvida, é seu "jeito" judaico, baseado e influenciado pela visão do sábios do Talmud e nas demais fontes judaicas dos últimos 2.000 anos. O uso dos nomes hebraicos - tanto dos personagens como dos lugares - torna o conjunto da obra mais interessante, porque usamos o "ben" para indicar a filiação (ex.: Avner, filho de Ner, virou Avner ben Ner). Quanto aos lugares, é possível entender onde que se passa pois esses pontos são visíveis no mapa hoje. Na grafia, usamos o H sublinhado para representar as letras Chet e Chaf, ao invés do tradicional CH. Acredito que o resultado seja bom. O público vai decidir. Embora seja apresentada convencionalmente, em capítulos e versículos - cuja origem não é judaica, mas teve que ser "oficializada" devidos aos recorrentes debates inter-religiosos da Idade Média -, tentamos demonstrar como é a divisão judaica para evita desmembramentos e descontextualizações de alguns textos. Apresentamos também aquelas "aberturas" que aparecem no textos hebraicos. Ficamos devendo a inclusão de todo o texto em hebraico. Isso fica para a próxima.
Agora, em relação às outras traduções em português, o que mais a distingue é que nenhuma delas foi feita diretamente do hebraico, idioma original da Bíblia. O que ninguém discute e é um fato.

Quais as grandes dificuldades encontradas para a tradução?
Ao não inserir notas de rodapé, tivemos de decidir entre as diferentes opções de tradução de algumas palavras, bem como optar por um dos tantos e ricos caminhos exegéticos. Às vezes, seguimos a opinião de Rashi, outras a de Nachmânides, outras de um terceiro, e assim sucessivamente. Mas sempre apoiados em alguma opinião rabínica, e de preferência, a que melhor se articulava com o texto em si, a que damos o nome de "peshuto shel hamicrá".

Que cuidados tiveram com a tradução?
Em primeiro lugar, a clareza - para os jovens estudantes entenderem o que o texto diz. Nesse ponto, sacrificamos várias palavras - por si só corretas e precisas - por outras mais conhecidas e compreensíveis. Educadores constituíam o grupo de trabalho para dar uma forte conotação educativa à obra.
Segundo, tentamos inserir no texto algo aparentemente abstrato mas cuja ausência é possível sentir em outras traduções: o olhar judaico, o gosto judaico, o som judaico; o estilo judaico, enfim.
Além disso, tentamos extrair do texto certas influências externas que se incorporaram a ele, às vezes intencionalmente, o que o distanciava do original. Um exemplo é traduzir Shabat por "dia de descanso", que amanhã poderia vir a ser o domingo... ou traduzir a palavra Toráh apenas como Lei, quando sabemos que ela é muito, muito mais que isso.
Raramente, e entre parênteses, inserimos palavras que complementam o texto, ou que o comentam, ou que identificam determinados personagens a que o texto faz referência. Isso poderá evitar que certas passagens sejam relacionadas a quem não de direito. Nos Profetas maiores e particularmente em alguns dos Escritos, não nos prendemos mais do que o necessário à letra do texto mas tentamos captar e transmitir sua mensagem de forma bem clara, como anteriormente na edição do livro dos Salmos. Nossa intenção é que o leitor se emocione com o texto, vibre e se envolva com a leitura. Neste caso, a tradução literal e "burocrática" seria um erro.

De que fontes se valeram para a tradução?
Primeiro, baseamo-nos na versão em hebraico do Tanach conhecida como "Kéter Aram Tsová" (ou Alepo), reconhecida como a mais fiel e autêntica, e que remonta à época de Maimônides.
Consultamos traduções para o inglês, espanhol, francês - e mesmo português - como fontes de comparação e apoio, mas no apoiamos principalmente nos comentaristas clássicos do Tanach , conforme relacionado no livro, mencionando até a época em que viveram.

Por que uma tradução para o português?
Porque havia essa carência e, em algum momento, alguém teria de fazê-la. O Tanach é a base de todo o "edifício" do judaísmo. Todos os demais livros se relacionam a ele. E é triste e doloroso constatar que poucos de nós tivemos a oportunidade de conhecê-lo. Eu mesmo, no início de meus estudos, sofri para entender muitas passagens. Talvez agora, disponível uma tradução judaica para o português, mais pessoas se interessem em conhecer e estudá-lo com a profundidade que ele merece!

Qual o significado desta obra?
Para mim, é a maior de todas e tantas contribuições judaicas para a Humanidade. Ela é a ponte que poderá tornar o mundo uma grande família de povos e, à luz de seus ensinamentos, aprenderá, um dia, a se respeitar e a viver de forma harmônica e em paz, como nos ensina aquela famosa profecia do lobo e do cordeiro, de Isaías. Ela é o livro mais importante da cultura judaica e o que mais profundamente influenciou a civilização ocidental. Graças a ela, nos deram, aos judeus, o título honorífico e o devido respeito por sermos "o povo do livro". Pois devemos assumir esta condição, também em português.

O texto foi traduzido na ordem direta, ou tal como se lê no original?
Onde possível, tentamos colocar na ordem direta. Ao invés de "E falou o Eterno a Moisés", adotamos o "E o Eterno falou a Moisés". Mas em trechos dos Profetas e dos Escritos, o estilo do texto exigia que mantivéssemos a forma indireta.

Quem já se mostrou interessado nela?
Primeiramente, as escolas judaicas; creio que logo as famílias judaicas também se interessarão por uma obra tão importante e fundamental para a identidade judaica. O público não-judaico também está ansioso por conhecer a forma como nós, judeus, lemos e entendemos a Bíblia.

Existe a possibilidade de ela vir a ser distribuída nos países de língua portuguesa?
Existe, e vamos tentar fazer isso o mais breve possível.

A edição inclui a exegese do texto bíblico?
Apenas parcialmente, pois não existe tradução sem exegese. Em outras palavras, a própria tradução é, em certa medida, uma exegese.

CONTACTO EM PORTUGAL
Ricardo Afonso (Moreno)
EuroEnigma, Lda
Telemóvel: +351 965324201
E-mail: euronigma@netcabo.pt
Web: www.sefer.com.br

2007/01/25

LADINA TERTULIAS
HEBREW EDUCATION IN LIGHT OF THE TORAH,

Sunday, January 28, 2007 22.h
at the LITERARY CLUB OF PORTO,
Porto, Portugal



CONFERENCE THEME/TEMA DA CONFERENCIA
Luis Gonzaga Grego

O Judaísmo assenta no conceito de rectidão e pode ser definido como uma cultura religiosa porque se baseia em crenças e num modo de vida. O Judaísmo não é transmitido geneticamente mas sim culturalmente e dentro de cada família através do exemplo e da influência. O processo de transmissão é o da educação em sentido lato, uma vez que aquilo que é transmitido não é apenas conhecimento mas também crenças e valores, atitudes e ideias, e sobretudo, um sentido de identificação e comprometimento. A ideia de que a vida humana é sagrada, porque criada à imagem de Deus, foi o preceito central da ética judaica. Tudo provem de Deus, cabendo ao homem o uso temporal desses dons: deve, por exemplo, arar a terra tendo em vista o seu uso pelas gerações vindouras.

A responsabilidade de transmitir o Judaísmo advém do Sinai, isto é, da obrigação contraída pelos antepassados quando em seu nome e em nome dos seus descendentes estabeleceram uma Aliança com Deus [1]. A transmissão do Judaísmo é uma tarefa para cada sucessiva geração de Judeus [2].

As tradições do povo Judeu eram difundidas oralmente na família através do pai e da mãe, responsáveis pela educação dos filhos a quem exigiam obediência do mesmo modo que Deus exigia ao seu povo.

As práticas educativas assentavam essencialmente na observação, no exemplo e na participação nas actividades familiares e religiosas nas quais o pai exercia duas funções: mestre e sacerdote. A partir do séc. VIII a.C. esta relação foi sendo formalizada e os escribas e sacerdotes assumiram progressivamente um papel mais importante na formação das crianças. No séc. III a.C. surge a Escola Sinagoga Elementar cujos pontos centrais de estudo eram o Pentateuco [3] e a literatura sapiencial em ordem a fortalecer a identidade comunal e a preservar a herança da fé ancestral. A escola judaica era uma escola destinada a todas as crianças porque a lei judaica assim obrigava todos os pais em todas as comunidades e tinha por objectivo instruir o discípulo na leitura e na compreensão das Escrituras Sagradas, no conhecimento da Lei Oral, por forma a prepará-lo para o estudo da Tora e para o Culto Divino. O povo Judeu foi uma das primeiras comunidades da antiguidade a insistir num ensino formal para todo o povo, praticando a alfabetização de adultos, a educação da população em geral e iniciando as crianças desde os seis ou sete anos de idade até aos 13 anos, sob a tutela do escriba. Estudavam a Tora, que além do Pentateuco inclui o corpo de tradições e interpretações que tratam da liturgia, e estudavam aritmética e hebraico antigo. No que se refere ao estudo da Tora, a democraticidade do processo ia ao ponto de juntar todas as crianças [4]. A educação habilitava os alunos a ler os livros da Tora e dos Profetas e a levá-los a uma compreensão de modo a que o conhecimento da Tora fosse suficiente para fazer participar a criança no estudo público desta e encorajá-la no desenvolvimento e expansão da tradição oral.

O processo educativo inculca no aluno não só o orgulho mas também a piedade e a humildade como membro de um povo santo. A sua educação fundamenta-se na crença de que Deus escolheu os Judeus para servirem de instrumento mas que a falta de fé desvia a sua posição privilegiada no caminho da salvação. Caso haja este desvio só a rectidão pode salvar o povo. Entendemos deste modo porque é que a educação tenta criar uma consciência cultural e cívica totalmente religiosa, ensinando valores individuais, integridade moral e religião: pretende-se que os judeus assimilem esses valores e que os pratiquem no dia a dia. A ênfase no trabalho manual e na dignidade deste é atestada pelo facto de mesmo os maiores estudiosos, os Rabinos e os profetas exercerem uma profissão: Jesus era carpinteiro. Era aceite que o trabalho manual enobrecia o carácter humano. No ensino da religião o processo educativo enfatiza a santidade mostrando que a única forma de se alcançar a rectidão pessoal é através da

disciplina moral, da contemplação, da oração e na conduta do dia a dia. É muito importante formar uma pessoa moralmente correcta porque o que importa na vida é aquilo que a pessoa é e não o que sabe fazer. Este facto explica o porquê de não haver preconceitos entre as profissões hebreias: as pessoas são julgadas pela sua rectidão de carácter.

Sabe-se que a prática da educação é muito anterior ao pensamento pedagógico. Tal pensamento surge em decorrência da reflexão que se faz em cima da prática da educação, como necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de determinados objectivos. O oriente [5] afirmou principalmente os valores da tradição, da não violência, da meditação e ligou-se principalmente à religião. Apesar das mudanças que experimentou, a educação judaica conserva ainda o ideal temático: Deus como princípio e fim, mestre e modelo da formação do povo.

Os livros sapienciais do Antigo Testamento são um manual para o êxito na vida, referem-se ao destino dos indivíduos, ensinam que a verdadeira sabedoria é não mais que o temor a Deus e que este temor é piedade. A origem da sabedoria deve ser procurada na vida familiar porque todo o conhecimento acumulado de geração em geração, o conhecimento sobre a natureza e sobre os homens, tudo isto é expresso em pequenas sentenças, ditados populares que possuem uma aplicação moral e que servem de normas de conduta. O ensino oral é compatível com este género de sabedoria, fácil, curta, simples, breve.

Neste debate procuraremos expor os ensinamentos do Livro dos Provérbios, do Eclesiastes e do Eclesiástico relacionando-os com a educação judaica, mais propriamente com o Judaísmo Sapiencial para quem o universo é o espelho perfeito da vontade de Deus, verdade que nos é transmitida através da experiência pessoal e da vontade colectiva.





--------------------------------------------------------------------------------

[1] Tomou o livro da Aliança e o leu para o povo; e eles disseram: "Tudo o que Iahweh falou, nós o faremos e obedeceremos" ( Ex.24:7).

[2] (...) ele firmou um testemunho em Jacó e colocou uma lei em Israel, ordenando a nossos pais que os transmitissem aos seus filhos, para que a geração seguinte os conhecesse, os filhos que iriam nascer: Que se levantem e os contem a seus filhos, para que ponham em Deus sua confiança, não se esqueçam dos feitos de Deus e observem seus mandamentos; (...) ( Sl. 78:5).

[3] Os cinco primeiros livros da Bíblia formam um conjunto que os Judeus chamam "Lei" ou Tora. Inclui o Livro do Génesis (porque começa pelas origens do mundo), O Êxodo (porque começa com a saída do Egipto), O Levítico (porque contém a lei dos sacerdotes da tribo de Levi), Os Números (por causa dos recenseamentos) e o Deuterónimo ( a segunda lei). Foram apresentados como lenda transmitida oralmente, de várias tribos hebraicas e alcançou a forma escrita depois do Exílio.

[4] "(...) o filho de um mendigo ou de um homem rico, o filho de um Haver (indivíduo) ou de um personagem ilustre da cidade, juntamente com os filhos dos homens ignorantes e pessoas de baixa estirpe ou mesmo os filhos de vários malfeitores e homens perversos.", Shmvel Safrai, Educação Elementar no Período Talmúdico, p.160-161, In Vida e Valores do Povo Judeu, UNESCO, 1969.

[5] A literatura sapiencial floresceu em todo o Antigo Oriente. Tem poucas preocupações religiosas e fica no plano do profano. Esclarece o destino dos indivíduos colhendo os frutos da experiência. Ensina o homem a conformar-se à ordem do universo e deveria dar-lhe os meios para ser feliz e prosperar.

2006/11/16

LADINA TERTULIAS

NO PRÓXIMO DIA 26 de Novembro pelas 22 Horas no CLUBE LITERÁRIO DO PORTO
Conferência sobre Leão Hebreu pelo ProF. Doutor João J. Vila-Chã
(English below)

Iehudad Abravanel (Leão Hebreu)

Filho de Isaac Abravanel, nasceu em Lisboa, em 1465, tendo vivido também em Espanha e em Itália. Supõe-se que terá morrido em 1534.

Do ponto de vista da filosofia, notabilizou-se pela elaboração dos Diálogos de Amor, cuja primeira edição saiu postumamente em Roma em 1535. Trata-se de uma «filografia universal» em que a propósito de um dos mais fecundos temas do renascimento, o amor, expõe as grandes linhas do seu pensamento, nos planos da cosmologia, teologia, metafísica, antropologia e estética.

O tema do amor, conservando o carácter caritativo e religioso de que se revestira com St. Agostinho e S. Tomás, conhecera um importante influxo com a tradução dos Diálogos de Platão por M. Ficino, sendo por essa via e não pela tradição rabínica que Leão Hebreu receberá a sugestão platonizante.

O seu conceito de sabedoria foi tributário da atitude dominante na época, convidando à erudição de que a sua obra é expressivo exemplo. Assim, procurou fundir a Bíblia com Platão, Aristóteles, os estóicos e os árabes (sobretudo Averróis e Avicena). Por isso, uma das suas maiores preocupações foi a de revelar a concordância de Platão e Aristóteles com a Bíblia, explicando a divergência entre os dois filósofos da antiguidade com base numa diversidade de informação acerca da Escritura.

Abordou desenvolvidamente o tema das relações entre a razão e a revelação, para defender a tese da supremacia desta, afastando o tema averroísta da dupla verdade, não sem que antes acentuasse a origem racional das ciências particulares. Tributário de uma cosmologia neoplatónica em que todos os seres se hierarquizam segundo uma ordem descendente (de Deus até à matéria primeira) e ascendente (da matéria primeira até Deus), Leão Hebreu concebe o amor como princípio universal, mediante o qual o superior se une com o inferior, o eterno com o corruptível e o universo com o seu criador. O amor é o espírito que penetra o mundo, vivificando-o, bem como o laço que abraça todo o universo, estabelecendo a sua harmonia intrínseca. Pode também conceber-se como causa dos dois percursos referidos, cada um dos quais definindo um semicírculo: tendo a sua origem em Deus, dele descende paternalmente do mais para o menos belo. Inversamente, é também o amor que reduz todo o universo a Deus, numa ordem ascendente que une as criaturas ao Criador.

Sobre este pano de fundo aborda os grandes temas da cosmologia, antropologia e estética. A sua cosmologia é de base qualitativa, dando guarida a complexas teorias astrológicas, pois que se dedica à análise do influxo dos planetas no carácter dos indivíduos e à interpretação astrológica das fábulas mitológicas.

À maneira renascentista e de certas correntes platonizantes, entendeu o mundo como um ser vivo onde distinguiu a parte imaterial da corpórea, e nesta, a região celeste da terrestre. Todavia, procurou evitar o panteísmo defendendo que o efeito carece da perfeição da causa. De facto, Deus surge-lhe como o primeiro ser por cuja participação todas as criaturas existem, agindo sempre por inteira e livre omnipotência. O tema da criação é aliás um dado apriorístico, e por ele se entrega à refutação da tese aristotélica da eternidade do mundo.

No plano antropológico veiculou o tema do homem-microcosmo, em coerência aliás com a sua visão qualitativa do universo. Já no que concerne ao significado da felicidade e beatitude do homem, procurou conciliar a mística tradicional, para a qual o homem se une a Deus pelo coração e não por um acto de inteligência, com a mística intelectualista de Maimónedes, para quem, sendo o conhecimento superior à vontade, a atitude mística e a beatitude suprema consistem essencialmente num acto de meditação. Leão Hebreu sintetiza as duas posições: amor e conhecimento são funções distintas apenas ao nível inferior da materialidade e não ao nível do intelecto puro, pelo que é possível falar num amor intelectual de Deus.

Finalmente, no plano da estética, defendeu que a essência do belo é de natureza espiritual, residindo nas ideias, enquanto pré-notícias divinas das coisas produzidas.

Obras
Diálogos de Amor, texto fixado, anotado e traduzido por Giacinto Manuppella, vols. I e II, Lisboa, 1983 (inclui ampla bibliografia)

Bibliografia
Giuseppe Saitta «La filosofia di Leone Hebreo» in Filosofia Italiana e Humanismo, Veneza, 1928;José Narciso Rodrigues, «A filosofia de Leão Hebreu. O amor e a beleza» in Revista Portuguesa de Filosofia, t. XV, fasc. 4, Braga, 1959, pp. 349-386;José Barata Moura «Amizade humana e amor divino em Leão Hebreu», in Didaskalia, vol. II, fasc. I, Lisboa, 1972, pp. 155-157;Id., «Leão Hebreu e o sentido do amor universal» in Didaskalia,, vol. II, fasc. II, Lisboa, 1972, pp. 375-404; Joaquim de Carvalho, Leão Hebreu Filósofo, in Obras Completas de Joaquim de Carvalho, vol. I, Lisboa, 1978;J. Pinharanda Gomes, A filosofia hebraico-portuguesa, Porto, 1981.

JUDAH ABRABANEL, LEONE EBREO (the HEBREW LION?)

Judah Abrabanel was born in Lisbon, Portugal, sometime between 1460 and 1470. He was the firstborn of Don Isaac Abrabanel (1437-1508), who was an important philosopher in his own right. In addition to their intellectual skills, the Abrabanel family played an important role in international commerce, quickly becoming one of the most prominent families in Lisbon.

Despite the conservative tendencies in the thought of his father, Don Isaac insured that his children received educations that included both Jewish and non-Jewish subjects. Rabbi Joseph ben Abraham ibn Hayoun, the leading rabbinic figure in Lisbon, was responsible for teaching religious subjects (e.g., Bible, commentaries, and halakhic works) to Judah and his brothers. As far as non-Jewish works and subjects were concerned, Judah, like most elite Jews of the fifteenth century, would have been instructed in both the medieval Arabo-Judaic tradition (e.g., Maimonides, Averroes), in addition to humanistic studies imported from Italy.[4]

By profession, Judah was a doctor, one who had a very good reputation and who served the royal court. In 1483, his father was implicated in a political conspiracy against Joao II, the Duke of Braganza, and was forced to flee to Seville, in Spain, with his family. Shortly after his arrival, undoubtedly on account of his impressive connections and diplomatic skills, Isaac was summoned to the court of Ferdinand and Isabella, where he was to become a financial advisor to the royal family. Despite his favorable relationship with them, Isaac was unable to influence them to rescind their famous edict of expulsion – calling on all Jews who refused to convert to Christianity – to depart from the Iberian Peninsula.

Judah seems also to have been well connected at the Spanish court and was one of the physicians who attended the royal family. After the edict of expulsion had been issued, Ferdinand and Isabella requested that he remain in Spain. To do this, however, he still would have had to convert to Christianity. Yet, in order to try and keep Judah in Spain, a plot was hatched to kidnap his firstborn son, Isaac ben Judah. Judah, however, discovered the plot and sent his son, along with his Christian nanny, on to Portugal, where he hoped to meet up with them. Upon hearing that a relative of Isaac Abrabanel had re-entered Portugal, Joao II had the young boy seized and forcefully converted to Christianity. It is uncertain whether or not Judah ever saw or heard from his son again. In a moving poem, entitled Telunah ‘al ha-zeman (“The Travails of Time”), he writes:

Time with his pointed shafts has hit my heart
and split my guts, laid open my entrails,
landed me a blow that will not heal
knocked me down, left me in lasting pain…
He did not stop at whirling me around,
exiling me while yet my days were green
sending me stumbling, drunk, to roam the world…
He scattered everyone I care for northward,
eastward, or to the west, so that
I have no rest from constant thinking, planning –
and never a moment's peace, for all my plans.


Like many of those Jews who refused to convert, Judah and his immediate family, including his father, made their way to Naples. There, Ferdinand II of Aragon, the king of Naples, warmly welcomed the Abrabanel family, owing to its many contacts in international trade. In 1495, however, the French took control of Naples, and Judah was again forced to flee, first to Genoa, then to Barletta, and subsequently to Venice. It seems that he also traveled around Tuscany, and there is some debate as to whether or not he actually met the famous Florentine Humanist, Giovanni Pico della Mirandola (it seems unlikely that he did). In 1501, after the defeat of the French in Naples, he was invited back to be the personal physician of the Viceroy of Naples, Fernandez de Córdoba. Among all of these peregrinations, Judah found the time to write (but not publish) his magnum opus, the Dialoghi d'amore. He seems to have died sometime after 1521. Other than these basic facts, we know very little of the life of Judah Abrabanel.

Especially enigmatic are the last years of his life, between 1521 when he was requested to give medical attention to Cardinal San Giorgio until 1535 when Mariano Lenzi published the Dialoghi posthumously in Rome. There is some evidence that Judah moved to Rome near the end of his life; some suggest that he fell in with a Christian group of Neoplatonists. Indeed, the 1541 edition of the work mentions that Judah converted to Christianity (dipoi fatto christiano). This, however, seems highly unlikely as (1) it is not mentioned in the first edition, the one on which all subsequent editions and translations were based, and (2) there is no internal evidence in the Dialoghi to suggest this. In fact, one of the characters in the work implies the exact opposite, stating that “all of us believe in the sacred Mosaic law” (noi tutti che crediamo la sacre legge mosaica).[6] It seems, then, that either a careless or over-zealous editor inserted the phrase “dipoi fatto christiano” into a later edition of the Dialoghi.

Amor intellectualis? Leone Ebreo (Judah Abravanel) and the intelligibility of loveJoao Jose Miranda Vila-Cha, Boston CollegeDate: 1999
.
Abstract of dissertation by Joao Jose Miranda Vila-Cha, Boston College(1999)
(escholarship.bc.edu.com)
This dissertation provides an analysis of both the text and the context of the philosophy of love developed by Judah Abravanel, also known as Leone Ebreo (ca. 1460-before 1535). As a member of one of the most prestigious Jewish families of the Renaissance, Leone Ebreo was born and raised in Portugal, found temporary refuge in Spain and, after the exodus of 1492, lived most of his life in Renaissance Italy as a man-in-exile. His Dialoghi d'amore, which were first published in Rome in 1535, are a conversation of and about love between a man and a woman, i.e., Filone (Philo) and Sofia (Sophy). We defend that the work was intended as a parable or diagram about the very nature of Philo-Sophy, and, at the same time, as a profound elaboration of the cosmic or transcendental nature of love itself. The Dialoghi d'amore are, thus, both a dramatic representation of a particular philosophy of love and a demonstration of how philosophy as such constitutes a form of love.
A detailed analysis of Leone Ebreo's thought, both a major example of Renaissance Philosophy and a model of interpretation, will here be the way toward progress in our own philosophical treatment of love and of the ontological condition it manifests. Since they constitute a paradigmatic example of philosophical eclecticism in the Renaissance, the Dialoghi d'amore will be read as the representative encyclopedia about the culture of sixteenth-century Europe that they in fact are.
Through a con-textual reading of Leone Ebreo's work we try to illustrate both the philosophical importance and the existential relevance of a text that, located as it is at a crucial moment of transition between the Middle Ages and the Modern Age, is clearly centered upon the Idea of Love (destined to give way to the more modern Idea of Nature) and, as such, came to play a significant role in the development of European thought and letters.

2006/11/03

LADINA TERTULIAS

2006/11/02

BIBLIA HEBRAICA

Tertúlias LADINA no Clube Literário do Porto
alexandre teixeira mendes

O MARRANISMO E A CULTURA HEBRAICO-PORTUGUESA/MARRANISMO AND PORTUGUESE-HEBREW CULTURE

NOVEMBRO 12

PARA ALEM DOS SETE SENTIDOS. UMA INICIACAO A KABBALAH
INITIATION INTO THE KABBALAH, BEYOND THE FIVE SENSES
Yosef Rodrigues, escritor, professor e conferencista, writer and teacher.

NOVEMBRO 26

JUDAH ABRAVANEL (LEÃO HEBREU), UM JUDEU DE PORTUGAL PARA O MUNDO/ A PORTUGUESE JEW FOR THE WORLD
Joao J. Vila-Chã, Professor de Filosofia Contemporânea da Faculdade de Filosofia de Braga (Universidade Católica Portuguesa) e Diretor da Revista Portuguesa de Filosofia (Braga).
Professor of Contemporary Philosophy at the Faculty of Philosophy, Braga (Catholic University of Portugal) and Director of the Portuguese Review of Philosophy (Braga). Author of "Amor Intelectualis? Leone Ebreo(Judah Abravanel) and the Intellegibilty of love"

O projecto das Tertúlias LADINA não descura nenhum dos aspectos mais importantes e problemáticos da tradição judaica-marrana. Elas pretendem conduzir-nos com passo seguro a um debate das tradições da Sepharad, com enriquecimento de perspectivas e com renovadas convicções. Destas áreas, a mais sublinhada aqui talvez seja a da espiritualidade sefardita (cujo exemplo de escrito maior é o livro Sepher HaZohar, “O Livro do Esplendor” que chegou a igualar-se, em santidade, à Torá e ao Talmud). A LADINA –Associação de Cultura Sefardita está convencida, e com razão, que a re-descoberta da cultura marrana gira em torno do desafio da espiritualidade. Digamos, então, imediatamente em síntese, que a espiritualidade judaica pode ser definida como uma tentativa de “reconciliação entre a terra e o céu” (André Neher), um esforço feito para alcançar a unidade do homem e da existência.
Os colóquios LADINA não são um fenómeno isolado (no actual momento histórico de renovação da sabedoria e religião judaicas). “Na busca da sabedoria, segundo Rabi Salomon Ibn Gabirol, o primeiro estágio é calar, o segundo ouvir, o terceiro memorizar, o quarto praticar, o quinto ensinar”.É o tempo este, em que as associações marranas, como a LADINA, se tornam sólido e autorizado ponto de referência, experiência activa de procura, de iluminação, em ordem à “refundação” da vida religiosa ou, se preferirmos, da problematização da cultura marrana.

Herança sefardita

Os colóquios dos últimos meses promovidos pela LADINA em colaboração com o Clube Literário do Porto (CLP) foram dominados por duas preocupações metodológicas complementares: uma procurava definir o valor e o alcance da cultura sefardita; a outra, chamar a atenção, com toda a simplicidade, para alguns aspectos significativos da herança marrana de modo exacto, e a partir de um material de documentação em que se pode ter suficiente confiança. Na origem e no centro desta permuta, esteve 1. a animação cultural do burgo portuense e, portanto, 2. o equacionar da espiritualidade e da cultura hebraico-portuguesa. Foi o que tentámos fazer.

Kabbalah e Leão Hebreu

As Tertúlias Ladina são um desafio e um enriquecimento recíprocos: por um lado, ao promover o conhecimento e o debate da cultura sefardita que condensa e acumula as nossas experiências passadas, herança de obras e exemplos que, em todas as circunstâncias, mostra o caminho a seguir; por outro, ao divulgar problemáticas essenciais – inultrapassáveis e reconhecidas por todos – em que os conferencistas assumem as suas ideias (opiniões) que, por assim dizer, justificam um esforço de conhecimento objectivo. Podemos dizer que são já sinal ou verdadeiramente um instrumento desta atitude dialógica, que já considerámos, as Conferências da LADINA previstas para Novembro. Vejamos, mais em pormenor.

12 de Novembro, 22h, Clube Literário do Porto. As Tertúlias LADINA abrem com a conferência do Prof. Yosef Rodrigues “Para além dos cinco sentidos – Uma Iniciação à Kabbalah”.

Muito se fala, muito se escreve, hoje em dia, sobre a Kabbalah. Poucos terão ainda defini-la com rigor. Mas ninguém se dará ao luxo de ignorar. Designa-se normalmente como “recebimento” – em sentido estrito – aquela atitude potenciada na Tora, que tende a um esoterismo hermenêutico. Tratando-se e uma arte de cariz mais especulativo que prático, sem prejuízo da vida da piedade, tende a uma leitura amplificada da tradição mística do judaísmo. Yosef Rodrigues é escritor, educador de crianças e conferencista, com especialização em kabbalah. Traduziu recentemente “O poder da Kabbalah” do rabino Yehuda Berg (Bertrand Editora), de quem se assume como discípulo.

26 de Novembro, 22 horas, Clube Literário do Porto. O Professor Doutor João J. Vila-Chã dá-nos uma palestra “Judah Abravanel (Leão Hebreu”) – Um Judeu de Portugal para o Mundo”.

Uma análise cuidadosa das suas ideias mostra-nos que, embora um filósofo doutrinado – esclarecido pela Bíblia e pelo Talmud - , Leão Hebreu assumiu e desenvolveu até às últimas consequências o neoplatonismo renascentista. Os seus “Diálogos de Amor” ou Filografia Universal gozaram de uma reputação comparável à da novela “Celestina”, que também é uma hermenêutica de amor. Ou seja, é um pensador de origem portuguesa que meditou sob o signo da “teologia platónica”. Os seus três diálogos versam a essência, a universalidade e a origem do amor. João J. Vila Chã é actualmente director da Revista Portuguesa de Flosofia (Braga) e professor de Filosofia Contemporânea da Faculdade de Filosofia de Braga (Universidade Católica Portuguesa). Este filósofo e padre jesuíta é autor de uma centena de ensaios filosóficos especializados e organizador de inúmeros seminários sobre as questões da teologia contemporânea, onde podemos destacar entre os seus títulos a recente publicação “Amor intelectualis? Leone Ebreo (Judah Abrabanel) and the intelegibility of love” (Publicações da Faculdade de Filosofia de Braga, 2006).

2006/10/17


LADINA LAUNCHES TERTULIA SERIES IN PORTO PORTUGAL
Porto, Portugal
m lopes azevedo

Ladina, a registered non-profit society based in Porto, Portugal launched its fall series of “tertulias” (ie salons) with the first session on Captain Barros Basto aka Ben Rosh, the “Apostle of the Marranos”, according to noted historian Cecil Roth. The event which took place at the recently opened Literary Club of Porto on the banks of the Douro river, featured guest speakers professor Elvira Mea (co-author of “Biografia de Barros Basto…”, 1997, Porto, Afrontemento), Antonio Melo (veteran investigative journalist), Rabbi Elisha Salas of Shavei Israel, and the Captain’s granddaughter, Isabel. The meeting room was elegantly decorated with a lovely bouquet of flowers courtesy, Mr. F. Morais, president of the Luis Araujo Foundation which operates the club. On display were the Captains medals from the first World War along with his sword and hat as well as various copies of many of his publications. There was also a large black and white framed picture of the Captain in uniform. His presence radiated amongst the full capacity crowd.
The guest panel was introduced by Alexandre Teixeira Mendes, a Marrano poet. He briefly commented on the evolving ambivelant nature of Marranism in a Christian world which professor Yosef Haym Yerushalmi’s characterizates as a uniquely Portuguese phenonenum.
Professor Mea, a noted authourity on Portuguese Jewish history, decribed the Captain as a visionary who took on the task of rescuing the secretive Marranos of Northern Portugal from obscurity. She described his life long work and eventual persectution by Salazar’s fascist dictatorship and its accomplice, the Catholic Church. More importantly, she described the Captain as an intellectual in his own right, a professor of Hebrew at the University of Porto before it too was shut down and of the Captain’s valuable original research into the origins and social history of the Jews of Northen Portugal. She spoke of the Captains courage in continuing with his lifes work despite the finacial difficulties his family faced when he was expelled from the army on spurious grounds. Notwithtanding, the Captain continued to publish “Halapid” until 1958, an educative journal he founded to dessiminate information on the Torah, Marrano history and liturgy and international Jewish issues. Lastly, she said that the Captain’s work was misunderstood, even in certain Jewish communities because it did not fit pre-conceived notions of normative Judaism.
The next speaker, journalist Antonio Melo who launched a public campaign in the mid 1990’s in the national newspaper, “O Publico” to rehabilitate the Captain, spoke of the Kafkauesque nature of the case, of the obstinancy of the Military and political ministers. The Captain’s democratic Republican leanings and association with masonry had so permeated the case that nobody wants to deal with the issue. Further, even though the civil police and a military tribunal had cleared the Captain of trumped up charges of immoral homosexual acts, the decision by Salazar’s Interior Minister to expell him from the army in 1937 has been successivily upheld after the April 25th revolution, in some cases by officials who have not even bothered to read the file.
After some eloquent words from rabbi Elisha Salas, who is conducting return clasess for Marranos as well as conducting services at Mekor Hayem synagogue, the Captain’s granddaughter Isabel Barros Basto expressed her pride that despite the continuos and relentess persecution of her family, her grandfather’s magnificant synagogue stands as a beacon for the emerging Marrano reinassance of today.
Upcoming tertulias:
October 30th- The Jews of medieval Porto
November 27 (tbc) Uriel da Costa-the first secular Jew